Carta ou Epístola?
A escrita se tornou um veículo principal para a comunicação naquele tempo. Entretanto, foi durante a época da Pax Romana que a escrita foi ser o mais importante meio de comunicação entre as pessoas. Foi durante esse tempo que as estradas vieram a ficar seguras por causa da proteção do Império Romano. Em Roma não havia correio público, per se, mas havia mensageiros tanto particular quanto público e esses mensageiros tinham a garantia de chegar em segurança até o destinatário.
As cartas tinham cunhos de propaganda, particular, oficial e comercial. No caso da propaganda Paulo usa esse termo aplicando a natureza pública da proclamação da morte do nosso Senhor Jesus Cristo, em Gálatas 3.1.
Adolf Deissmann (Luz do Oriente Antigo, 1910) usa as palavras de Cícero (106 a.C.); que ele fazia distinção entre carta particular e a carta pública. "Vocês vêem, eu tenho uma maneira de escrever o que acho que será lido por aqueles a quem envio minha carta, e outra maneira de escrever o que acho que será lido por muitos." Foi baseado nesse argumento de Cícero que Deissmann se embasa para mostrar a diferença entre "carta genuína" e "epístola". A "carta genuína" é escrita para pessoas específica no máximo para outras pessoas que sejam de interesse do autor, contudo não é de interesse que essa carta seja extensiva para grupos, comunidades entre outros. Já as "epístolas" é de gênero também pessoal com intuito de se tornar publica para a comunidade, entidades entre outros. O autor escreve para a pessoa e depois desta ter lido a carta passa para a comunidade especificada pelo autor. A este gênero de escrita ou composição literária chama-se "epistolar". A estrutura mais ou menos de uma carta é de 90 palavras em média, a de uma espístola é de 200 palavras em média, exemplo disso é a carta de Paulo a Filemom, que é a menor, contém 335 palavras, a maior que é Romanos é de 7.101 palavras.
MÉTODO DE COMPOSIÇÃO
Segue-se o esquema abaixo:
No começo da epístola se têm a saudação normal de "alegria ou graça" (os judeus usam o termo paz) contendo o nome do remetente e do destinatário; segue-se uma oração de ação de graças a Deus; seguida da fórmula introdutória; na conclusão, mensagens de saudações e votos de felicidade em nome de alguém.
Existia naquela época o "secretário profissional" e "escravos instruídos" que redigiam as cartas ditadas pelo seu senhor. Contudo a maior parte dessas cartas eram escritas por um escriba profissional chamado amanuense. Quando o texto era muito extensivo o amanuense escrevia em forma de taquigrafia e depois reescrevia de uma maneira mais erudita. A tinta era inferior e era molhada constantemente, o papel era papiro, numa forma enrolada. O amanuense escrevia neste rolo e cortava no número de páginas necessárias. As cartas de uma página seriam então, enroladas e dobradas, depois amarradas e seladas com cera.
Datação
Especula-se que as Epístolas Joaninas tenham sido escritas depois do Evangelho. Haja visto que as relações entre as epístolas não são claras e definidas. 2ª e 3ª João é curta demais para se prever sua datação.
Para se tentar resolver esse problema a espístola aludida em 3ª João 9 refere-se a II João (Uma aproximação Recente ao Novo Testamento e à Literatura Cistã Primitiva - M. Dibelius). Exemplo disso é o uso do termo "anticristo" em 2ª João 7, parecia depender do texto de 1ª João, entretanto esse termo poderia ser de uso comum da época. Sendo assim, fica inviável de ser saber a data correta das epístolas de João. A melhor opção é dizer que elas foram escritas na mesma época.
A datação das epístolas joaninas é determinada pela datação do Evangelho de João. Se o Evangelho foi escrito antes, se supõe que as epístolas são bem antigas também. O Evangelho de João foi escrito provavelmente em meados dos ano 70 d.C. (justamente por não existir evidências da destruição de Jerusalém) e mais tarde publicado em Éfeso, quando João residiu por lá. Apesar de existir autores que alegam que as epístolas foram escritas depois da perseguição no ano de 96 d.C. após a morte de Domiciano, quando a perseguição cessa e antes da perseguição de Trajano começar (110-117 d.C.).
Policarpo e possivelmente por Inácio (115) empurram a data para o primeiro século. A falta de reflexo de perseguição nas epístolas provavelmente se encaixaria melhor no período anterior a Domiciano. Portanto, conclui-se que estas epístolas de João foram escritas 70-90 ou derrepente na década 80-90 seria também bem provável.
Local da Composição
Assim como o Evangelho, a outra literatura joanina saiu da área da Ásia Menor, que tinha a cidade de Éfeso como um centro. A tradição mais antiga diz que foi em Éfeso. Policarpo, Polícrates, Irineu, Paulo pelo menos esse confirmam que foi em Éfeso o centro do qual a correspondência joanina saiu.
Autoria
2ª e 3ª João foram escritos pelo mesmo autor sem sombra de dúvida. Elas usam a mesma linguagem. Na introdução trazem a mesma setença: ho presbyteros.
Tal posição acima é contestada de várias maneiras. Hoje em dia não se defende mais a asserção de que estas epístolas de 2ª e 3ª João não é mais imitação dos escritos joaninos, afirma a alta crítica.
Com isso se levantaram objeções muitos profundas acerca disso, contra a teoria de que 2ª João tenha sido escrita pelo mesmo autor de 3ª João. Dizia-se que 2ª João é uma epístola fictícia do catolicismo primitivo e dependente de 3ª João, e que, diversamente de 1ª João, o conceito de verdade em 2ª João não é dualista, porém indica antes uma doutrina correta em contraposição a falsas doutrinas, e que, conceptualmente, ela não pode harmonizar-se com 1ª João e 3ª João.
Contudo, há evidências internas muito fortes a respeito de que foi o apóstolo João o "discipulo que Jesus amava," filho de Zebedeu e irmão de Tiago escreveu o Evangelho e as epístolas joaninas.
As Relações dos Escritos Joaninos
O modelo abaixo foi retirado do livro: Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Broadus David Hale. Ed. Hagnos. Páginas 406-409.
Evangelho | 1ª João | 2ª João | 3ª João |
2.24 | 4.1-3 | 7 | |
8.31 | 3.18 | 1 | 1 |
10.18 | 4.21 | 4 | 3 |
13.34 | 2.7 | 5 | |
14.21 | 5.3 | 6 | |
15.11;16.24 | 1.4 | 12.13 | 13,14 |
21.24 | 12 |
Qual a relação que existe entre as 3 Epístolas: que as 3 epístolas provêm de um mesmo autor isso é evidente, mediante a uma leitura minuciosa. As irmãs gêmeas 2ª e 3ª João com certeza vem de um mesmo autor "ho presbyteros" 2ª João 1 e 3ª João 1. As comparações destas duas, nos revelam que é possível ser o mesmo autor (cf. 2ª João 1 com 3ª João 1; 2ª João; 2ª João 4 com 3ª João 3; 2ª João 10,11 com 3ª João 5,6; 2ª João 12 com 3ª João 13,14).
Vemos as semelhanças que tem o quadro acima, quando se lê esses quatro, sente-se que o mesmo autor está por trás de cada um. Dionísio de Alexandria (265) concluiu, da concordância no uso vocabular o teor de pensamento, que estes dois escritos tiveram que vir do mesmo autor.
Existem diferenças berrantes entre 1ª João e o Evangelho. Não obstante, das 50 palavras em 1ª João que não aparecem no Evangelho, apenas 5 são de alguma forma significativas (mensagem, comunhão, propiciação, unção e iniquidade) . Existem 813 palavras no Evangelho que não aparecem em 1ª João, mas somente 8 são imprevisíveis, por sua ausência (cruz e crucificar, discípulo, glória e glorificar, céu, lei, Senhor, buscar, sinal). Juntamente com o uso destas palavras está o uso de proposições, partículas adverbiais e conjuntivas, e verbos compostos. Se percebermos bem os outros evangelhos, as espístolas paulinas vemos que essas diferenças podem ser explicadas por causa das diferentes ênfases que o autor quer dar ao texto, ou então dar um outro sentido a uma outra comunidade com assuntos diferentes. Isso não sgnifica que o autor tem que usar as mesmas palavras que ele usou antes em uma carta. Quando escrevemos uma carta para uma pessoa íntima usamos palavras que não ousaríamos escrever para o nosso chefe ou até mesmo para uma pessoa que não é chegada a nós. E os evangelistas usavam os mesmos critérios para se escrever.
Todavida, os críticos colocam uma ênfase maior nas diferenças. Com essas diferenças eles alegam que talvez o escritor seja outro. Os críticos parecem concordar que existem basicamente 4 diferenças que, mantêm eles, e que não podem ser explicadas: a escatologia, a morte de Cristo, o Espírito Santo, a centralidade de Cristo.
1- Escatologia - é mantido que a escatologia é primitiva em 1ª João e avançada no Evangelho. O Evangelho de João apresenta a vida eterna e o juízo como sendo atividades de Cristo quando ele vem a cada crente espiritualmente, através do Espírito Santo (João 3.14-19; 14.15-24). O conceito mais primitivo está em 1ª João aqui há a promessa da vinda - parousía - de Cristo, o aparecimento visível, e o dia do juízo (1ª João 2.8,28; 4.17).
2- A morte de Cristo - no Evangelho Cristo é apresentado como sua hora de levantamento e sua glorificação. E nenhum destes termos é encontrado em 1ª João, onde o propósito para a morte de Cristo é apresentado como propiciatório.
3- O Espírito Santo - a palavra - parákletos: consolador, advogado. No Evangelho, o Espírito Santo é outro Consolador (João 14.16), mas Jesus é o advogado para com o Pai em 1ª João 2.1.
4- A centralidade de Cristo - o Evangelho é cristocêntrico e a Epístola é é teocêntrica. No Evangelho o Lógos é pessoal e refere-se ao Filho, ao passo que na epístola "lógos da vida" refere-se ao corpo de verdade que traz vida eterna.
Vemos que não tem nenhuma explicação plausível para fazer distinção entre os autores do Evangelho e de 1ª João. Os argumentos críticos em favor de autores diferentes baseados em diferenças linguísticas e teológicas, não são tão concretos como o crítico nos faria crer. As diferenças aqui encontradas pode ser resolvidas por causa da diferença de propósitos. As semelhanças são maiores que as diferenças. E por causa dessas semelhanças entre as epístolas, pode ser afirmado que o homem que escreveu o quarto evangelho também escreveu as epístolas joaninas: o Apóstolo João.
Destinatário
Há aqui em 2ª João uma polêmica uma discusão bem profunda ao termo "senhora eleita". No grego o termo se encontra no seguinte molde: eklekte kuria kai tois teknois autes. Esta sentença causa uma grande divergência entre os teólogos. No entanto, que alusão que o texto causa aqui, uma igreja cristã ou uma pessoa?
Trata-se não somente do problema de tradução, mas também hermenêutica e exegese.
Alguns teóricos consideram essa frase literal, outros, uma expressão metafórica da igreja cristã. Igreja Cristã? Outro nome dado?
Para quem segue a teoria que o escrito joanino é literal, afirma-se que "eklekte kuria" seja um substantivo próprio, (apesar de ser um nome fora do comum nas páginas do N.T.) senfo assim parece que é uma diaconisa, uma mulher piedosa da igreja cristã de Éfeso. Logo, a expressão seria, senhora eleita, senhora Electa, Electa Kyria e Kyria Eleita.
O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo do R.N. Champlin, fala que esse termo foi proposto pela primeira vez por Clemente de Alexandria. Os teóricos que seguem essa teoria dizem que esta Epístola foi encaminhada a uma senhora cristã e aos seus filhos.
Entretanto, há aqui uma fraqueza gramatical, cuja a qual pode interferir e muito nas traduções, o adjetivo eklektes é usado mais uma vez no versículo 13, que dá uma outra ênfase um outro sentido. Divergindo assim da primeira unidade que significa provavelmente um nome, mas essa significa "tua irmã, a eleita" (adelphes sou tes eklektes) impedindo assim que a primeira unidade seja um substantivo próprio, ao menos que se adimita que se tenha dua irmãs com um mesmo nome.
É digno de ser mencionado também, que às vezes, um adjetivo grego quando acompanhado por um substantivo próprio requer um artigo definido como é o exemplo da 3ª Epístola de João 1.1: "o amado Gaio" (Gaio to agapeto).
O teólogo Harold L. Willmington aceita que o livro foi dirigido a uma pessoa em particular, discordando das posições que dizem que é um nome, ele afirma que o apóstolo João menciona senhora a fim de resguardá-la por causa das perseguições da época.
Já a outra teoria diz que a "senhora eleita" é um dos "nomes designados" a IGREJA de Cristo, local ou doméstica. Essa teoria é defendida por vários comentaristas modernos como, por exemplo, John R.W. Stott. Um dos argumentos empregados a esse termo se refere a uma Igreja na Babilônia, chamada pelo apóstolo Pedro de syneklekte, co-eleita 1ª Pedro 5.13, e por essa mesma razão, talvez João tenha empregado esse termo referindo-se a uma igreja ou conjunto de igrejas na Ásia Menor. Claro que isso também é uma das hipóteses. Outra também pode ser as 7 igrejas do Apocalipse, que também não é nada conclusivo.
David Hale Broadus, A.D. Carson e Eduardo Lohse entre outros admitem que a epístola foi endereçada para uma comunidade de fé, a um grupo de pessoas.
Oscar Cullmann coloca em xeque essa discussão tão intrigante e um tanto quanto polêmica, ele vai dizer que a sentença Kyria pode ser traduzido por "senhora: a senhora eleita não é uma pessoa cristã, mas uma igreja denominada assim simbolicamente." A posição de Cullmann é interessante pelo fato de que ele apoia a primeira unidade que consiste em que a sentença "senhora eleita" seja uma pessoa e também apoia a segunda unidade que diz ser uma comunidade, uma igreja local, mas ele apoia que seja "um nome da comunidade local", os teóricos apesar de não saber o local desta comunidade, admitem, no entanto, que a gramática do texto favorece tal argumento.
Há também uma outra teoria agrgumentável digna de ser contestada e apresentada que vai de encontro a essas que foram supracitadas acima. Não havia comunidade cristã citadina na qual não houvesse um responsável. A carta poderia ser endereçada ao líder, como para a igreja local como também poderia ser lida em outras igrejas.
Nas páginas neotestamentárias, a Igreja é comparada a uma noiva (2ª Cor. 11.2), esposa (Efé. 5.22,23) e também a uma mulher conforme a literatura veterotestamentária e cristã.
Os biblicistas que aceitam a teoria da epístola ser endereçada aos crentes locais admitem que Kyria refere-se à igreja. Em vez de certa senhora. De modo que se analisarmos a partir deste pressuposto vemos então um outro "nome" dado a Igreja, nome esse que não se encontra em todas as páginas da Palavra de Deus. Haja visto que o termo Kyrios é aplicado à Cristo. Isto não significa que ao afirmar que a palavra Kyria quando é aplicada a igreja tenha o mesmo valor que Kyrios, pois a igreja não têm a mesma autoridade que Cristo têm. O caráter da palavra aqui não significa que a igreja tenha "senhorio", "domínio", "divindade", mas ela têm um caráter simbólico e metafórico, a igreja local é a senhora eleita, ilustram essa mesma como "esposa", "uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo" 2ª Cor. 2.11.
Portanto, há essas teorias que o leitor pode julgar qual dessas é a melhor que se encaixe em seu sermão, estudo entre outros, o importante é que de uma forma ou de outra, como a identidade da igreja ou a senhora eleita, seja uma pessoa particular, uma comunidade local, ou um nome da comunidade local, a ekklesia está presente por meio da "igreja" e que se reúne em casa da "senhora eleita" ver. 10, ou por uma congregação local ver. 13. Julguemo-nos a ênfase que queiramos dar a esse tão importante assunto.
Bibliografia:
Broadus David Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento. Ed. Hagnos
Georg W. Kummel, Introdução ao Novo Testamento. Ed. Paulus.
Esdras Costa Bentho, Igreja Identidade & Símbolos. Ed. CPAD
R.N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Ed. Hagnos
Gerhard Hoster, Introdução e Síntese do Novo Testamento. Ed. Esperança
Nenhum comentário:
Postar um comentário