REINO DE DEUS NA PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO
A parábola do trigo e do joio. Mateus 13.24-46
24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino
dos céus é semelhante ao homem que semeia
boa semente no seu campo; 25 mas, dormindo os
homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio d
o trigo, e retirou-se. 26 E, quando a erva
cresceu e frutificou, apareceu também
o joio. 27 E os servos do pai de família, indo ter
com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste
tu no teu campo boa semente? Por que
tem, então, joio? 28 E ele lhes disse: Um inimigo é
quem fez isso. E os servos lhe disseram:
Queres, pois, que vamos arrancá-lo? 29
Porém ele lhes disse: Não; para que, ao
colher o joio, não arranqueis também o
trigo com ele. 30 Deixai crescer ambos juntos
até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi
aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o
em molhos para o queimar; mas o trigo,
ajuntai-o no meu celeiro.
R E S U M O
Qual o maior significado da mensagem de Jesus Cristo?
Certamente muitos falarão que sua mensagem central é a cruz, sua morte, a
ressurreição, a salvação, entre outros temas. De fato, são temas de grande
relevância, porém o ponto fulcral da mensagem de Cristo não consiste nas
supracitadas, mas sua mensagem constitui na locução Reino de Deus. Sobretudo,
os ensinos de Jesus formam um aspecto didático para os ouvintes que o
acompanhavam. Jesus tem toda uma preocupação didática para introduzir suas mensagens,
das quais podemos citar uma: parábola em Mateus, capítulo 13. Essa parábola
fala do "Joio e do Trigo", fazendo uma alusão ao Reino de Deus, como
ele chegará a nós e sua importância para a salvação do homem.
Analisando com acuidade a parábola, podemos notar que no
Reino de Deus há dois tipos de sementes: o joio que é normalmente interpretado
como os infiéis ou os não cristãos, e o trigo que é comparado aos fiéis ou cristãos
em modo geral. Mas essa diferença será notada somente no fim dos tempos, ou
seja, somente quando o trigo estiver maduro e pronto para a ceifa é que poderá
se fazer uma triagem apurada desses cereais tão parecidos.
No que tange ao reino de Deus em seu aspecto soteriológico
podemos dizer que o reino nos deixa marcas e evidências que já está operando
entre os homens. De fato, já está entre nós. Jesus mesmo deixa isso bem claro
logo depois do seu diálogo com os discípulos de João Batista, aonde ele fora interrogado
se era o Messias, em Mateus 11.12, Jesus disse: “Desde os dias de João Batista
até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se
apoderam dele”. Podemos dizer então que o reino de Deus não é um conceito
extático, mas sim um conceito dinâmico e que opera entre os homens trazendo a
eles o ideal de justiça de Deus através de Cristo Jesus. Conclui-se que o reino
de Deus se preocupa não somente com alma do indivíduo, mas com tudo aquilo que
envolve o homem. O reino de Deus apenas exprime uma experiência histórica do
povo escolhido: a ação divina como fonte de toda a criação e como salvadora da
humanidade. Fica evidente que o Reino resulta da ação salvífica de Deus, e não
do esforço humano ou de suas realizações históricas. Sendo assim os sinóticos
consideram que o reino de Deus, seja uma realidade presente, ou seja, uma
realidade futura, o presente inaugura a plenitude salvífica futura e o futuro
penetra e esclarece o presente como tempo de decisão para alcançá-lo.
Palavras-chave: Reino de Deus. Salvação.
Joio. Trigo.
A B S T R A C T
What is the
core meaning of the message of Jesus Christ? Surely many will say that its
central message is the cross, death, resurrection, salvation, among other
topics. In fact these are very important issues, but the core of Christ's
message does not consist in the above, but his message is the expression of the
Kingdom of God. Especially the teachings of Jesus are a didactic aspect for
listeners who accompanied him. Jesus has a whole didactic approach while
delivering his messages, for instance: the parable in Matthew, chapter 13. This
parable speaks of the "tares and wheat", an allusion to the Kingdom
of God, how it will come to us and its importance for man's salvation.
Accurately
analyzing the parable, we can see that in the kingdom of God there are two
types of seeds: the weeds which is usually interpreted as infidels or non-Christians,
and the wheat that is compared to the believers or Christians in general. But
this difference will only be available in the revelation times, or only when
the wheat is ripe and ready to harvest one will be able to make an accurate
screening of these so like cereals.
Regarding the
kingdom of God in his soteriological aspect we can say that the kingdom leaves
in marks and evidence that it is already operating among men. In fact, it is
already among us. Jesus himself makes this clear right after his dialogue with
the disciples of John the Baptist, where he was asked if he was the Messiah, in
Matthew 11:12, Jesus said: “From the days of John the Baptist until now, the
kingdom of heaven has been subjected to violence and violent people have been
raiding it.” We can say then that the kingdom of God is not an ecstatic
concept, but rather a dynamic concept and works among men bringing them the
perfect justice of God through Jesus Christ. It concludes that the kingdom of
God is concerned not only with the individual soul, but with everything that
involves the man. The kingdom of God simply expresses a historical experience
of the chosen people: the divine action as the source of all creation and as
the savior of mankind. It is evident that the Kingdom resulting from the saving
work of God, not human effort or its historical achievements. Thus the synoptic
consider that the kingdom of God is a present reality, that is, a future
reality: the present opens the fullness of future salvation and future
penetrates and clarifies the present as decision time to achieve it.
Keywords:
KINGDOM OF GOG. SALVATION. CHAFF. WHEAT.
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO
2- CAPÍTULO 1 – AS PARÁBOLAS NO EVANGELHO DE MATEUS
2.1- A questão Sinótica
2.2- Conteúdo, Natureza e Propósito
2.3- Autor
2.4- Local e Data
2.5- O Termo Parábola
3- CAPÍTULO 2 – A PARÁBOLA DO JOIO
3.1- A Parábola
3.2- Resposta a Certa Decepção
3.3- A Trama
3.4- Estrutura
3.5- Desenvolvimento
4- CAPÍTULO 3 - O REINO DE DEUS EM CONTINUIDADE COM A
SALVAÇÃO DO HOMEM NA PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO
4.1- A Expressão Reino de Deus ou Reino dos Céus
4.2- A Práxis do Reino de Deus: A Salvação do Homem
5- CONCLUSÃO
6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1- I N T R O D U Ç Ã O
O Reino de Deus exprime uma experiência histórica irrompida
na humanidade, é a ação divina como fonte de toda a criação e como salvadora do
homem. Falar do Reino é falar no fundo sobre Deus. De fato, o Reino vai
acontecer, pois não consiste somente em meras palavras, mas em ação (1a Co.
4.20), assim compreendemos que para a Escritura a vinda do Reino significa
simplesmente a manifestação de Deus ao seu povo. O Reino de Deus não é a
igreja, não é o céu para onde irão os santos, nem tão pouco a comunidade
eclesial na região onde vivemos. O Reino de Deus teve seu primeiro anúncio por
João, o Batista e logo depois por Jesus Cristo. Onde o próprio Cristo ora
pedindo "venha o teu reino", onde o próprio também faz uma relação proeminente
sobre várias parábolas a respeito deste Reino.
Podemos entender também que o Reino é algo que já está entre
os homens se manifestando e alguns já podem ver e sentir esse Reino, como o
caso do "pobre de espírito", mas que sua completude se dará nos
finais dos tempos. Vemos também que o Reino de Deus é oposto ao reino das
trevas, e tudo aquilo que afeta a ordem natural das coisas criadas por Deus e
do homem. Este Reino que já está presente, mas que um dia irá ter sua plena
revelação em um tempo futuro, já entrou para a história dos homens na pessoa
encarnada de Jesus com a finalidade de vencer esse mal, de libertar a
humanidade do seu poder e de propiciar-lhes a participação das bençãos de Deus
através do Reino dEle. Jesus dialogando com os discípulos de João Batista, onde
estes foram perguntar ao próprio Cristo se Ele era o Messias esperado ou se
haveria de vir outro Jesus os indaga falando em Mateus 11.1ss: "Ide contar
a João as coisas que ouves e vedes: os cegos veem, e os coxos andam; os
leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos
pobres é anunciado o evangelho". Dá-nos entender que o Reino de Deus está
em oposição a estes elementos citados acima e uma das manifestações do Reino é
exatamente isso, a preocupação e o bem estar ético, social e espiritual do
homem. Este Reino está em conformidade com a esfera material do homem, ele se
preocupa não somente com o espírito, mas também com o corpo. Também podemos
dizer que o Reino de Deus envolve aspectos éticos da vida do ser humano. Vemos
que Jesus sempre nos mostra caminhos que devemos seguir como o caso do Jovem
rico (Mt. 19.16-30), onde ele pergunta a Jesus o que ele faria para entrar no
Reino dos Céus e Jesus o responde que era somente ele cumprir a Lei, e ele
responde que já cumpria e Jesus mandou vender todos os seus bens e repartir com
os pobres. O jovem rico sai triste e Jesus faz a comparação que é mais fácil um
camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. O
caráter ético aqui se baseia das pessoas ajudarem umas às outras, de se
preocuparem com o próximo em suas necessidades comum do dia-a-dia. Aqui cabe um
elemento muito importante sobre o caráter ético do reino de Deus, que é a
questão da justiça deste Reino. É uma justiça determinada pela obediência a
mandamentos que Jesus, outrora, deu em seus ensinamentos, como por exemplo, as
Parábolas do Reino.
Para ter acesso a este Reino, o indivíduo tem que se submeter
a muitos critérios, um desses é o homem deixar seu próprio lar (Lc. 9.58),
também rompendo seus laços familiares (Lc. 9.61), também há o aspecto que se o
indivíduo amar mais seus pais ele não é digno deste Reino (Mt. 10.34-39),
qualquer laço que impede o amor a Deus e ao seu Reino impede também o seu
ingresso ao Reino de Deus. O Reino de Deus envolve também duas proposições
muito interessantes e polêmica, ele se manifesta em dois éons presente e
futuro. A basileia é sempre entendimento escatológico, designa então o tempo da
salvação, a consumação deste mundo, a reconstituição da comunhão de vida entre
Deus e os homens, afetado por causa do pecado. A gênese do Reino de Deus se
encontra na experiência entre Jesus Cristo e Deus, essa relação foi íntima a
ponto de ser irromper na história a salvação do mundo. E a missão de Cristo foi
compartilhar não somente o Reino, mas essa salvação tão esperada.
2- C A P Í T U L O 1
2-
AS PARÁBOLAS NO EVANGELHO DE MATEUS
2.1-
A QUESTÃO SINÓTICA
Evangelho vem do grego “euangélion” que significa “pagamento
pela transmissão de uma boa notícia” ou “recompensa pela transmissão de boas
novas”, mas também as próprias “boas novas”, com o passar do tempo a expressão
o termo se desenvolveu e passou a se chamar “boa notícia” ou “notícia de
vitória”. Este termo já tinha adquirido conotação religiosa principalmente no
culto do imperador, César, no império romano, o imperador era venerado como
salvador (sôter) e até como deus, o anúncio de seu nascimento e de sua subida
ao trono era considerado “euangelion”.
Nos textos neotestamentários esse termo assume um significado
de “boa-nova de salvação”. Na base deste termo está o verbo “euangelízesthai”,
hebraico “bissar”, “proclamar boa-nova de salvação” (Is 40.9; 52.7; 61.1; Sl
96.2...). Esse ato de proclamar a boa-nova se encontra em Isaías,
correlacionado com o mensageiro de Deus que a boa-nova escatológica da irrupção
do reinado, soberania de Deus, ou seja, o Reino de Deus. Os três primeiro
evangelhos são agrupados e recebe o nome “sinóticos”. Encontramo-nos diante de
um gênero literário diferente. Os evangelhos como literatura não são biografias
helenísticas, não estão interessados na ordem cronológica do texto ou até mesmo
no fundo histórico de sua época, nem tampouco os autores estão preocupados em
demonstrar à antiga literatura de memórias dando a ênfase em heróis.
Seu interesse é nada mais que suscitar a fé e fortalece-la,
os ditos e ações de Cristo foram coletados na forma mais simples da narrativa,
com a finalidade de mostrar aos cristãos da época o fundamento da fé e
proporcionar os missionários um sólido documento para a pregação, ensinamento e
também para argumentar falsas doutrinas que poderiam surgir no cenário. A
teoria das duas fontes essa proposta se baseia em duas colunas, Marcos é a base
para Mateus e Lucas, por ter sido o primeiro. Mateus e Lucas fizeram uso de Marcos
e de Q.
2.2-
CONTEÚDO, NATUREZA E PROPÓSITO
O Evangelho de Mateus é o primeiro livro do NT, entretanto, o
primeiro evangelho a ser escrito foi o Evangelho Segundo escreveu Marcos. Mas,
Mateus tem uma prerrogativa interessante que diferencia dos demais evangelhos. A
natureza do Evangelho de Mateus possui um fio de tensão, fala sobre uma didática
e uma apologética. Mateus faz um bom uso das palavras a ponto de ser reconhecido
em público rapidamente, por causa de sua didática simples. Segundo Jerônimo
(1972) e Bock (2006) os dois concordam que dos quatro Evangelhos, Mateus, é o
mais judaico, sendo assim, ele provavelmente escreve aos judeus de fala grega
com origem judaica. Mateus é um link entre veterotestamentários e
neotestamentários. O Evangelho expressa uma expectativa judaica de um Messias
politizado. Os judeus esperavam um Messias que fosse político e que tirasse seu
povo do jugo e das mãos dos opressores e que restituísse o trono do Rei Davi.
Hale (2001) e Bock (2006) o Evangelho de Mateus foi escrito em tempos obinubilados,
aproximadamente perto da guerra Judaico-Romana, guerra está ocasionada pelo
fanatismo nacionalistas, que tentaram introduzir à força o Reino Messiânico.
O objetivo do Evangelho de Mateus é mostrar uma continuidade
do Rei tão esperado pelo povo de Israel com Jesus Cristo, o Messias, o Filho de
Deus, o Rei prometido ao seu povo. Mateus abarca em seu conteúdo o tema
singular e fulcral da mensagem de Jesus que é o "Reino do Céu",
objetivando sistematizar e estruturar o conteúdo da mensagem de Jesus. Há outro
aspecto para se observar nos temas deste Evangelho são o
"evangelismo" e "missões". Mateus tem o cuidado de
preservar o conteúdo kerigmático dos apóstolos. Outros temas que abarcam esse
Evangelho a respeito de Jesus como a morte e a salvação dos homens estão
intrinsecamente correlacionadas à profecia: descendência davídica, nascimento,
vida, morte, ressurreição, ascensão e a promessa da volta de Jesus. A questão
didático pedagógica segundo Horster (1996) e Hale (2001) que o evangelho
apresenta, ele pelo que parece foi escrito para instrução. O ensino tem um enfoque
muito forte na pregação de Jesus (como por exemplo as Parábolas e o Sermão do
Monte) é um livro completo, Mateus se preocupa com a comunidade que irá ler
seus escritos, por isso a acuidade deste autor.
Outro elemento muito importante que Mateus enfatiza em seu
evangelho é a apologética. Havia grandes conflitos entre judaísmo e
Cristianismo, um deles era que alguns diziam que a justiça, só poderia ser
recebida como uma dádiva de Deus. Mateus mostra que o propósito de Deus em
Jesus Cristo era salvar o mundo e inaugurar seu Reino. O Reino Messiânico não é
um reino racial, nacional, político, onde os homens agem de maneira
egoisticamente, mas o Reino de Deus inaugurado por Jesus e predito por João, o
Batista, é ainda espiritual onde os pobres têm as mesmas características que o
rico e são tratados de igual modo, se bem que, neste Reino, o pobre tem maior aceitação
do que o rico. Vimos que qualquer um desses temas apresentados são sem dúvidas temas
inerentes ao seu conteúdo programático, nota-se também que há uma continuidade
entre os temas abordados e cada um deles são específicos e possuem caráter
único. Mateus faz um destaque maior sobre o tema "Reino dos Céus",
cada dito está intrinsicamente correlacionado à questão da realeza de Jesus,
enfatizando para o seu público judaico-cristão o reino messiânico de Jesus como
Rei deste Reino tão proeminente.
O "Reino do Céu" em Mateus refere-se à soberania de
Deus sobre toda a ordem criada, a palavra "reino" segundo Hale (2001)
com adjetivos qualificativos e pronomes, é usado cerca de 60 vezes os em
Mateus, para intensificar o termo em seu evangelho. Tanto no AT como no NT a
palavra "reino" tem a mesma significância o governo soberano de Deus.
Quer que o homem reconheça ou não seu reinado, Deus é Rei e sua realeza está
ativa entre os homens nesse mundo presente, pois Ele mesmo prometeu um reino
sem fim a "Um homem como o Filho do Homem" (Dn 7.13,14).
2.3-
AUTOR
A autoria deste evangelho é incerta, pois não há nenhuma
menção do autor, ou seja, uma assinatura dizendo quem foi como no caso das
epístolas do Apóstolo Paulo. Esse livro é anônimo, assim como os outros três
evangelhos. Contudo, a tradição antiga, a igreja, atribui a este evangelho o
nome de Mateus e que este provavelmente teria escrito em hebraico ou aramaico,
mas provavelmente ele escreveu em grego segundo Bock (2006). A tradição é
unânime em dizer sobre a autoria de Mateus, concordando com isso o Comentário
San Jeronimo (1970), Schmid (1973), desde o século II como o caso de Papias,
Irineu, repetida no século III por Orígenes e no século IV por Eusébio Kümmel (2004)
e Schmid (1973). Uma pergunta surge: Por que Mateus? Essa é uma pergunta
intrigante, pois não temos respostas, a não ser se observarmos a tradição
cristã primitiva e buscarmos entendermos um pouco sobre quem é Mateus. Eusébio
cita Clemente de Roma como dizendo que “o primeiro dos quatro Evangelhos, que
são inquestionáveis, foi compilado por Mateus, que outrora fora um coletor de
impostos, mas posteriormente um apóstolo, Horster (1996). Esta é a evidência
mais antiga sobre o Evangelho de Mateus. Inácio de Antioquia nos dá entender
também que está fazendo menção de Mateus em sua carta a Esmirna, ele se refere
ao que é tido como um Mateus escrito, e o denomina o Evangelho, Hale (200)1. E assim
segue-se uma lista da tradição primitiva a respeito da autoria de Mateus favorecendo
a sua autenticidade.
O nome próprio de Mateus significa “dom de Deus”, aparece em
todos os relatos das listagens dos doze apóstolos Mc 10.2-4; Mc 3.16-19; Lc
6.13-16; At 1.13. Somente em Mt 10 ele é chamado de publicano, cobrador de
impostos; Marcos (2.14) o chama de “Levi, filho de Alfeu” e Lucas (5.27) o
chama somente de “Levi”. Não há dúvida que os três citados são as mesmas
pessoas, se a menção que Marcos faz em 2.14 for real a ele como publicano,
então este é irmão de Tiago, o filho de Alfeu (Mt 10.4; Mc 3.18; Lc 6.15; At
1.13). Há também outra questão e esta também é convincente no quesito a sua autoria
e iria explicar detalhadamente algumas questões particulares do judaísmo. A questão
está em seu nome de Levi, Leuín de Marcos 2.14 e Lucas 5.27 poderia ser traduzido
por “levita”, e não necessariamente por “Levi”. Isto nos levaria entender que Mateus
pertenceria à tribo de Levi.
Levando em consideração o termo levita poderemos explicar as
peculiaridades deste evangelho. O conservacionismo, o interesse na lei oral e
na tradição, nos fariseus e nos escribas, e a escatologia tradicional
encaixam-se perfeitamente na formação prévia de um levita. Como havia muitos
levitas e que muitos desses não poderiam ser absorvidos no ritual do templo (Lc
1.8,9), grandes partes deles tinham que ter outro meio de se sustentarem. Como
o levita eram homens treinados pelo sacerdócio, sua posição para serem
empregados pelos “principais publicanos”, que seriam da classe sacerdotal politicamente
poderosa de Jerusalém. Esse treinamento é vantajoso, pois ele teria tal capacidade
para escrever um evangelho tão notório quanto o é de Mateus, Hale (2001). Mateus
pelo que parece evangelizou a Etiópia, Macedônia, Síria, Pérsia e Média. Há uma
tradição que ele tenha morrido naturalmente na Etiópia ou na Macedônia. Por outro
lado, as Igrejas Grega e Romana celebram o seu martírio. Depois de Atos 1.13
não ouvimos mais falar mais de Mateus ou Levi.
2.4-
LOCAL E DATA
O Evangelho de Mateus só poderia ter sido escrito num lugar
onde a língua grega era comum a todos, mas que esses falantes gregos eram de
origem cristão-judaico. Há eruditos que pensam que foi na Antioquia da Síria? Sua
data de composição é meio que incerta, tomando como base o evangelho de Marcos
que provavelmente fora escrito no ano 60 ou 70 d.C. em diante menos impossível,
segundo os autores Hale (2001); Carter (1999) e Kümmel (2004).
Provavelmente o Evangelho de Mateus teria sido escrito nos
anos 100 d.C. Levando em consideração a declaração do Bispo de Antioquia,
Inácio, quando se referiu ao evangelho em sua carta a Esmirna. Eusébio cita
Clemente de Roma sobre Mateus e Clemente morreu por volta do ano 101 d.C. Para
comprovação basta analisar os textos de Marcos sobre a perseguição neroniana e
das mortes de Paulo e Pedro. Alguns eruditos chegam a afirmar que Marcos 13 e
Mateus 22 e 24 pressupõem a destruição de Jerusalém. Há também a questão de que
Mateus e Lucas parecem refletir fortemente a separação e crescente alienação
entre judeus cristãos e judeus não-cristãos, entre o cristianismo e judaísmo.
Naturalmente, esta atitude de alienação é observável no livro de Atos e poderia
dar crédito a ideia de que eles poderiam ter surgido no cenário nos anos 60-70.
Mais provavelmente, seria melhor dizer que Mateus foi escrito entre 65-75. A
Data é incerta, mas temos que levar em considerações algumas afirmações dos
próprios textos de Marcos e Mateus.
2.5-
O TERMO PARÁBOLA
Parábola vem do grego (Coenen; Brown in: Chown, 2004)
parabolē, tipo, figura, parábola; paraballō, jogar ao lado de, comparar. Segundo
Dodd (2010) as parábolas são talvez o elemento mis característico da doutrina
de Jesus Cristo registrado nos evangelhos. Em todos os conteúdos se apresenta uma
marca bem definida de sua personalidade. O impacto que ele causou nas mentes das
pessoas causando uma boa imaginação fazia com que fixasse na memória dos ouvintes,
além disso esse tipo de explicação assegurou um lugar muito distinto na tradição.
Mas uma coisa é ter dito a parábola e outra é o modo de como
entenderemos essa parábola e que neste ponto não existem unanimidades acerca do
entendimento. Segundo Dodd (2010) durante muito tempo o ensinamento tradicional
da igreja as tratou como alegorias nas quais cada termo era tido como um
criptograma de uma ideia, de sorte que o conjunto devia ser codificado palavra
por palavra. As parábolas ocupam um lugar proeminente nos evangelhos
conclamados por Jesus, independentemente do cenário Jesus estava ensinando
através das parábolas. Schnelle (2004) vai diz que dispensa a interpretação
alegórica da parábola e esclarece de forma determinante as terminologias
(comparação, parábola, narrativa paradigmática, lado figurado e lado objetivo).
Foi feito um levantamento que cerca de um terço dos ditos de
Jesus são em parábolas. Só o capítulo 13 do evangelho de Mateus contém cerca de
oito parábolas que são denominadas, em seu conteúdo, “os mistérios do Reino dos
Céus.” A palavra “parábola” indica, literalmente, “comparação”, e é comumente
usado para indicar uma história breve, um exemplo esclarecedor, que ilustra uma
verdade qualquer. No seu sentido mais lato (Coenen; Brown in: Chown, 2004
p.1566), a parábola é uma forma de fala que se emprega para ilustrar e
persuadir mediante uma figura. Na Bíblia Sagrada esse termo usa como o emprego
de fala figurada que era muito usado, para dar expressões concreta, pitoresca e
desafiadora a ideias religiosas para as quais não existiam conceitos abstratos
de todos os dias. R. Bultmann (apud Schenelle, 2004) desenvolveu um enfoque que
ele partiu do princípio de que a simples palavra figurada, na qual a figura e a
coisa são colocadas lado a lado sem uma partícula de comparação (Mc 2.17,21;),
e quando essas palavras figuradas são acentuadas elas se transformam em
hipérboles (Mt. 5.29s; 6.3) e paradoxo (Mt 10.39; Mc 4.25). Perto da palavra
figurada está também em enfoque a metáfora (Mt 5.13; Lc 9.62), ela é uma
comparação abreviada, na qual faltam as partículas de comparação e a figura
substitui a coisa, sendo assim a metáfora deve ser entendida como uma forma de
discurso não literal.
A parábola nos traz a memória uma realidade presente sobre a
nossa vida e convida o ouvinte a uma análise de si com base em suas
experiências (Mc 4.26-29; Lc 15.4-7). A parábola em si nos descreve algo do
nosso cotidiano, porém a narrativa parabólica muda de perspectiva e relata
casos isolados (Lc 15.11-32) e sua grande maioria se encontra no passado. Desde
Julicher (apud Schenelle, 2004), é determinante a suposição de que o lado
figurado e o lado objetivo de uma parábola ou narrativa parabólica convergem
num só ponto, que precisa ser definido com a exegese. A narrativa paradigmática
está em paralelo à parábola (Lc 10.30-37) esta por sua vez está ausente
qualquer tipo de elemento figurado. A parábola também não é a mesma coisa que
alegoria é uma metamorfose da metáfora. Nela existem vários pontos de comparação
entre a figura e o objeto. A alegoria interpreta a si mesma, tão somente substituindo
os personagens reais por outros. Na alegoria, os personagens fictícios são dotados
das mesmas características das pessoas reais, sem qualquer tentativa de para ocultar
ou ilustrar por meio de símbolos. A parábola ilustra por meio de símbolos, como
por exemplo, “o campo é o mundo”, “o inimigo é o diabo”, “a boa semente são os
filhos do reino”. A parábola é uma narrativa séria, colocada na esfera das
probabilidades, isto é, a história narrada na parábola pode ter acontecido
realmente, sendo ilustração das experiências comuns aos homens, e o conteúdo
desta história tem por fito ilustrar, ensinar ou enfatizar um ou mais
princípios éticos, morais, doutrinários ou religiosos.
Talvez a alegoria não seja muito diferente disso, excetuando
o fato que pode indicar uma história criada, dotada de mais símbolos
comparativos. Fazendo uma análise hoje em geral se distingue três etapas da
parábola: alegoria, alegorese e alegorização. Segundo Schnelle (2004) a
alegoria é uma forma literária, a alegorese, um processo de interpretação e a
alegorização, a explicação secundária de um texto figurado. A probabilidade é
que as parábolas foram consideradas peças em um meio judaico, segundo Dodd
(2010) entre os mestres judeus as parábolas eram procedimento corrente e
perfeitamente utilizado para ilustrar uma ideia e as parábolas de Jesus tinham uma
forma semelhante às rabínicas. Por um outro lado, no mundo helenístico estava sendo
muito difundido o uso de mitos, interpretados alegoricamente como veículos de uma
doutrina esotérica e não é estranho que se esperasse dos mestres cristãos algo semelhante,
foi isto sem dúvida que deu a interpretações equivocadas um espaço grande nas
comunidades cristãs.
O que são então as parábolas se não são alegorias? Dodd
(2010) diz que são expressão natural de uma mentalidade que vê a verdade em
imagens concretas em vez de concebê-las por meio de abstrações. O contraste
pode ser facilmente identificado por duas formas de pensamentos com duas
passagens dos evangelhos. Em Mc 12.33, um escriba expressa esse juízo: “Amar ao
próximo como a si mesmo vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios”; em
Mt 5. 23,24, se expressa a mesma ideia: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua
oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa
perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e,
então, voltando, faze a tua oferta”. Esta forma de expressão concreta e
descritiva é plenamente característica das sentenças de Jesus.
De uma forma mais simplista a parábola é uma metáfora ou
comparação tirada da natureza ou da vida diária, que atrai o ouvinte por sua
vivacidade ou singularidade e deixa na mente certa dúvida sobre sua aplicação
exata, de modo que estimula a mente uma reflexão ativa e introspectiva gerando
uma expectativa no ouvinte. Isso pode nos ocasionar um importante princípio de
interpretação; a parábola típica apresenta, seja uma simples metáfora, uma símile
mais elaborada ou um relato extenso, somente um ponto de comparação. Os
detalhes não têm um significado independente. Por outro lado, em toda a
alegoria cada detalhe é uma nova metáfora com um significado próprio. O que se
propõe ao autor de uma alegoria é compor seu relato de maneira que se lê de
forma natural, sem a necessidade de captar a interpretação. Nas parábolas dos evangelhos
tudo está de acordo com a natureza e a vida, cada símile ou relato é um quadro
perfeito de algo que pode ser observado no contexto da nossa experiência.
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