sexta-feira, 26 de junho de 2020

PARTE II DA MONOGRAFIA

CAPÍTULO 2

3- A PARÁBOLA DO JOIO

Mateus 13. 24-30 diz:

 24- Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao homem que semeia a boa semente no seu campo;

25- Mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou joio no meio do trigo, e retirou-se.

26- E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio.


27- E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu, no teu campo, boa semente? Por que tem, então, joio?


28- E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres pois que vamos arrancá-lo?


29- Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele.


30- Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.


 


3.1- A PARÁBOLA

 

O tema central da pregação de Jesus é o Reino de Deus. Sob essa perspectiva é que os evangelhos sinópticos resumem sua mensagem: Marcos 1.15 no sumário, Mateus e Lucas nas expressões: "anunciar o evangelho do reino," Mt 4.23; 9.35 e anunciar a boa nova do reino Lc 4.43; 8.1; 9.2,60. Todos os evangelistas se propuseram a elaborar a temática do Reino de Deus, pois foi isso que Jesus mais se preocupou em sua jornada.

Sobre a terminologia nos evangelhos se alternam o Reino de Deus e o reino dos Céus. As duas expressões significam a mesma coisa, pois os "céus" é mera circunlocução para Deus, Jeremias (2008).

 

3.2- RESPOSTA A CERTA DECEPÇÃO

 

A questão da decepção gira em torno do Reino de Deus e um certo “fracasso. As parábolas do joio no meio do trigo e a do semeador (13.1-9) são negativas o resultado do Reino. Logo, em uma parábola o fracasso se dá a qualidades diferentes dos terrenos, outro, porém, a uma semente que concorre com a original e que essa concorrente é uma ação do inimigo. Quaisquer que sejam os problemas vigentes, a situação é a mesma, segundo Gourgues (2004): “a chegada do Reino não se manifesta por meio de resultados assombrosos e uniformemente positivos" não depende da ação do homem.

Essa situação de certa decepção se mostra com a missão de Jesus de explicar aos discípulos através da parábola, por meio de sua ação e pregação, o Reino, a grande intervenção escatológica de Deus aos homens está acontecendo. Porém, se pode averiguar que o mal e sua força ainda se fazem notório com a sua resistência. Logo, nos perguntamos: “O que mudou com a chegada do Reino dos Céus?” Esperava-se que com a chegada do Reino de Deus desaparecesse o mal e o aniquilamento dos pecadores. Gourgues (2004) vai dizer que existem escritos do judaísmo contemporâneo, que tal espera tem grande analogia com a pregação de João Batista, Mateus (3.7-10.12) e Lucas (3.7-9.17). Infelicidade, grita o precursor, ao pecador que não estiver convertido quando aparecer a salvação de Deus. E desta salvação somente os justos serão contemplados (Mt 13.30a) como na pregação de Batista (3.12b), se veem identificados com o trigo que se recolherá no celeiro. Ao contrário, a palha, à qual queria responder os pecadores, será queimada (3.12b), assim como o joio (13.30a).

Muito se tem pensado sobre o que é o Reino de Deus. Porém, ainda é muito obscuro o que seja o Reino de Deus, segundo o autor Ladd (2003) desde Agostinho aos reformadores o pensamento dominante era que o Reino de Deus fosse de alguma forma identificado com a Igreja, entretanto, hoje quase nenhum estudioso concorda mais com esse pensamento, mas há uma grande aceitação de que a Igreja é o povo deste Reino. Ladd (2003) vai ainda mais fundo ao dizer que o Reino de Deus é interpretado como a pura religião profética ensinada por Jesus: A paternidade de Deus, "irmandade dos homens", o valor infinito da alma do indivíduo e a ética do amor. Muitos estudiosos interpretam o Reino basicamente em termos da experiência religiosa pessoal - o Reino de Deus na alma do indivíduo.

 

3.3- A TRAMA

 

A parábola do joio no meio do trigo faz parte de um capítulo que reúnem 7 parábolas em seu contexto. Depois do Sermão da Montanha de Mt 5-7 e do discurso de envio em missão de Mt 10, o discurso parabólico se apresenta como o terceiro grande discurso de Jesus Cristo. Os três grandes discursos de Jesus fazem parte de seus ensinos éticos e morais aos homens, além do cunho espiritual, mas Jesus dá uma ênfase muito maior ao caráter ético segundo Marchall (2007).

Somente Mateus registrou essa parábola, a explicação se acha em Mateus 13. 36-43 essa parábola assim como a do tesouro escondido, a da pérola de grande preço, a da rede de pesca e a do pai de família são peculiares a Mateus, assim como nos mostra a hipótese da teoria dos “dois documentos” supracitada no capítulo 1 onde se fala a respeito dos evangelhos sinóticos. Evidentemente essa perícope se originou na tradição oral ou escrita, provavelmente preservada pela igreja de Antioquia.

Não nos surpreende que Mateus fale sobre os assuntos do tempo do fim e do julgamento, pois Mateus se ocupa mais com esses assuntos do que os outros evangelistas e isso nós vemos claramente em seus discursos parabólicos. Alguns estudos têm identificado essa parábola com o trecho de Marcos 4.26-29 – parábola do Crescimento Inconsciente da Semente – e entre tais estudiosos grande é o debate sobre qual das apresentações das palavras de Jesus – Mateus ou Marcos – seria a fonte original desta perícope. Porém, as semelhanças são superficiais e a intenção da lição, em cada caso, é inteiramente diversa.

Segundo Dood (2010) diz que essa parábola é peculiar a Mateus e que muitos pensam que Mateus elaborou segundo a parábola de Marcos, entretanto, Dodd diz que isso é improvável, pois a parábola de Mateus é independente, é descrita de maneira clara e concisa e que certamente Marcos que tenha se inspirado em Mateus. Provavelmente essas palavras representam ditos diferentes de Jesus, proferidos sob circunstâncias e em ocasiões diferentes. Além do motivo homilético que predomina em Marcos, na interpretação de Mateus já atua o escatológico: a lição é que na igreja existem membros bons e maus antes do juízo final. A parábola do joio é principalmente profética e escatológica, estendendo-se até o julgamento final, ao passo que a parábola do crescimento inconsciente da semente em Marcos é apenas outra parábola que ilustra o caráter geral do desenvolvimento do reino dos céus entre os homens, como é ilustrado pelas parábolas do fermento e do grão de mostarda.

A parábola do grão de mostarda ilustra o crescimento observado do lado de fora; a parábola do fermento observa pelo lado de dentro esse mesmo crescimento; e a parábola que se lê em Mc 4. 26-29 crescimento inconsciente da semente contempla esse crescimento de maneira que não pode ser visto pelos homens. De acordo com Kingsbury (2001) Mateus 13 é o "ponto tuming" de todo o evangelho de Mateus. Uma vez que os judeus rejeitam Jesus, nos capítulos 11-12 como Messias e fundador do Reino escatológico de Deus, Jesus enfrenta-os no capítulo 13. Nesta interpretação, Mt 13,36 tem uma importância fundamental como ponto de ruptura de uma mudança no discurso parabólico.

No entanto, caso contrário indica que já em 12. 22-45, mesmo com 11. 16-24 dominar o discurso condenatório. Além disso, nada mudou depois o ponto da mudança: Jesus está se dirigindo ao povo depois do capítulo 13, e a cidade ainda está aberta para ele. O ponto de mudança ocorre em estágios; também o capítulo 13 o discurso não é simplesmente uma parte "comum" a narrativa do evangelho, mas fazem parte de um todo, um compêndio no livro de Mateus.

 

3.4- ESTRUTURA

 

Segundo Gourgues (2004) se analisarmos a parábola do trigo e do joio veremos que ela se desenvolve em duas seções bem simples: 1- 13.24-28a descrevem a situação da parábola, a trama em si; 2- 13.28b-30 a solução dessa trama. Sendo assim, essa construção é parecida com a forma de um quiasmo, onde dois elementos (AA’) se correspondem em torno de um polo central (B), vejamos:

Parte I 13.24-18a – Situação (O esquema seguido foi retirado de Gourgues 2004, p.35)

A. Semente do Trigo (24) / Semente do Joio (25)

B. Crescimento do Trigo (26a) / Crescimento do Joio (26b)

A’. Semente do Trigo (27) / Semente do Joio (28a)

Parte II 13.28b-30 – Solução

A. Afastada: Arrancar o Joio (28b) / Arrancar o Trigo (29)

B. Conservada (agora): Deixar crescer juntos (30a)

A’. Conservada (no fim): Arrancar o Joio (30b) / Recolher o Trigo (30c)

Na Parte I (A’), é lembrado que a questão levantada pelos servos e a resposta dada pelo senhor, que era a questão das sementeiras boas e ruins. Logo A’ e A se coincidem, ou seja, “semear uma boa semente no campo”, que é a Parte I e na Parte II acontece na última parte do v.30, A', o senhor indica que é preciso reservar para o tempo da colheita as operações que no v.28b-29 (A) os servos propunham realizar a tarefa.

Onde dois elementos se correspondem em torno de um polo central; processo estilístico que consiste em formar uma antítese, dispondo em ordem inversa e cruzada os elementos que a constituem. Dicionário Aurélio 2008-2014 O elemento B, central, se corresponde de igual modo, ou seja, o crescimento simultâneo das sementes ruins plantadas pelo inimigo e as boas semeadas pelo proprietário. Na trama II consiste em o crescimento dessas ervas enquanto na solução o senhor deixa crescer as duas sementes juntas até o tempo da ceifa, as duas podem e devem crescer juntas para não haver o erro de tirando o joio tirar o trigo. O dono lamenta a presença do joio, porém ele sabe muito bem que na ocasião da ceifa poderá separar os dois. A parábola é um quadro real na vida no campo descrito com vivacidade e propriedade. A tensão se dá no ponto em que o lavrador descobre que há joio no meio do trigo, segundo Dood (2010).

Portanto, a ênfase maior não está no crescimento das sementes boas ou ruins, ou o que fizeram que é a questão do plantio da semente ruim, ou até mesmo no que será feito após a colheita, o que importa não é o que aconteceu e nem o que acontecerá com as sementes, o cerne, o ponto fulcral da parábola está no que está sendo feito no presente, o agora. Muitos têm discutido o tema dessa parábola, se preocupando em que ênfase o autor deve dar, se é na semente de trigo ou de joio, a parábola da boa semente e assim por diante, o autor Gourgues (2004) diz que o título deveria ser “O joio no meio do trigo” ele continua dizendo que a estrutura da parábola ressalta como elemento central de cada um a das partes: de um lado, a mistura manifestada na etapa do crescimento (13.26); de outro lado, a solução prescrita pelo senhor (13.30).

 

3.5- DESENVOLVIMENTO

 

Para se ter uma noção segundo Gourgues (2004) essa parábola é de fato permanente a Mateus, pode observar na introdução claramente um linguajar mateano: “Propôs-lhes outra parábola...” Assim como em 13.31 para introduzir a parábola do grão de mostarda e em 13.33, um linguajar bem parecido para a parábola do fermento.

Além desse aspecto há outra questão em 13.24b: “O Reino dos Céus é semelhante a um homem..." A explicação da parábola é alegórica, mas mesmo sendo alegórica a parábola apresenta pontos obscuros. Essa parábola assim como as duas seguintes (v.31-33) apresenta o mesmo tema, a de plantação. Essa parábola é muito chamativa, pois sua interpretação não se dá a todos somente em casa e para os discípulos em particular. A perícope se desenvolve em duas partes; o diálogo do servo com o proprietário 27-30, a primeira sentença do diálogo se desenvolve em torno da “semente” da “boa semente” e a ação do inimigo ao plantar a "semente ruim"; e a segunda sentença 28-30, contém a resposta do proprietário ao lavrador aonde fora bem enfático para não tirar o joio do meio do trigo, esta parábola contém algumas singularidades, mais da metade desta contém em um diálogo onde nada acontece em sua história.

A estrutura temporal é complexa e juntamente com o tempo do plantio e a fase de crescimento com o tempo da colheita. A segunda sentença contém a resposta aos segadores. A história resulta em 3 atos, este último em forma de anúncio. Alguns detalhes parecem ser dissonantes. O agricultor que semeia (v. 24), pessoalmente, passa a ser um proprietário com muitos servos. Essa narrativa parece infringir leis da parábola, tais como o desenvolvimento retilíneo e a redução ao mínimo das pessoas participantes. Assim como outras parábolas, há um momento em que o inimigo age para poder causar dano a semente lançada. Mas essa ação não é, como é muitas vezes o núcleo da história, mas sim um ponto de uma ronda de perguntas em que o proprietário explicou largamente.

A proposição da frase v.24 “Um homem que semeou boa semente...” Dá-nos a entender que é uma expressão sem valor, pois ninguém semeia sementes ruins. Pois mesmo assim o texto nos mostra que outra pessoa também semeou e este não foi sementes boas e sim ruins se nota no v.25 "...mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se...” Vemos que o autor faz alusão além do joio, à noite e ao inimigo, de facto, houve uma intenção de prejudicar a plantação e o dono. Pois é a noite que se cometem roubos e danos (Mt 24.43). Observa-se, então, que “enquanto todos dormiam” há um grande espanto que toma os servos (v.27), pois semearam a erva daninha quando todos dormiam quando a plantação estava vulnerável.

Mas o que é joio então? Segundo Moody (2001): seu nome técnico é lolim temulintum: uma erva daninha específica dos campos de cereais, uma planta nociva. O joio cresce normalmente com as sementes e produzem estragos o bastante, imagine semeando como fez o malfeitor dessa parábola. Segundo Stern (2008) o judaísmo entende que o joio não é uma planta diferente do trigo, mas uma forma degenerada dele. Bock (2006) diz que o simbolismo, aparentemente, não se refere ao trigo, mas, sim, ao joio, que é muito parecido com o trigo a ponto de ser difícil de dizer a diferença entre eles durante seu ciclo de crescimento, algumas vezes, a briga de um lavrador com seu vizinho pode estragar uma plantação, sendo assim, o conflito acrescenta um tom de animosidade. o inimigo procura corromper a presença da boa semente que brota.

Há de se observar (v.26) que há um crescimento de igual modo entre duas sementes, quando a erva cresceu e começou a dar o fruto viu-se o joio crescendo de igual modo. O joio possui característica muito própria que se iguala ao trigo, logo é muito idêntico ao trigo, seu formato, seu fruto até chegar ao momento da formação da espiga. Pode-se observar o grande espanto dos servos quando olham a plantação e veem que tinha joio no meio do trigo, a questão não é o joio em si, pois o joio cresce naturalmente sendo plantado ou não, o espanto está na tamanha quantidade que havia de joio na plantação. Pois, só se dava para notar a diferença quando as sementes já estavam grandes e quando o trigo já estava com a espiga. Por isso o espanto foi grande, pois eles tinham a certeza de que o seu senhor tinha semeado sementes boas. Esse cenário armado dá a entender que o inimigo o fez de má intenção para prejudicar a plantação. O que então se deve fazer nessas condições? Os servos trazem uma solução equivocada e esperada e esta é na mesma hora rejeitada pelo senhor e o mesmo traz uma solução que dará jeito na erva daninha.

A solução dos servos: “Queres, então, que vamos arrancá-lo” (v.28b). o verbo arrancar aqui empregado no grego significa em geral “apanhar, recolher”, entretanto, no v.29, quando se dá a resposta, o senhor usa o mesmo verbo mas, seguido desta vez do verbo e krizoô, “desenraizar, extirpar” (p.39) a proposta do senhor foi: “Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo.” Os servos parecem esquecer de que aconteceria com o trigo e como o joio cresceu juntamente com o trigo não tinha como mais arrancar o joio. Quando analisamos a questão do senhor levantada para que “não arranqueis o trigo se não arrancaria o joio também” (p. 39) a versão transmitida pelo evangelho de Tomé parece favorecer a segunda explicação. Com efeito, ela deixa entender que trigo e joio são ainda indiscerníveis e que a diferença só aparecerá no fim, daí o risco de confundi-los agindo agora: “O homem não os deixou arrancar o joio, em Mateus 13.29 diz: Ele lhes diz: de modo que venham arrancar o joio e que arranquem o trigo com ele; com efeito, no dia da colheita, os joios aparecerão: serão arrancados e serão queimados.”

As duas explicações são plausíveis e não há nenhum problema em usá-las, como por exemplo, o caso de Jeremias (2008) que comentando o v.29 escreve: “O senhor é de opinião de deixar o joio, porque de fato há joio demais (...) e o resultado é que com tal quantidade de joio as raízes deste se emanharam com as do trigo.” Jeremias ainda diz que os homens não têm condições nenhuma de fazer uma triagem bem apurada porque o joio e o trigo se parecem muito e se assim fizessem arrancaria também o trigo. Se analisarmos com acuidade verá que a primeira interpretação se impõe com a segunda. A priori vemos que as espigas já cresceram o v. 26 dá a entender que o trigo e o joio chegaram à fase de crescimento em que podem ser distinguidos, sobretudo pelos servos. Já o v. 29 se impõe ao v. 26, nesse, v.29, a recomendação do senhor é “arrancando o joio”, não é a incompetência dos servos que o senhor teme em seguida o senhor diz “ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo”, esse é o que o senhor teme arrancar junto com o joio o trigo, pois os dois são muito parecidos.

Gourgues (2004) vai dizer que essa parábola possui muitas afinidades com a parábola da rede e uma delas é o fato de não ser feita a triagem dos peixes bons e maus na rede, mas, sim, esperar o fim para poder fazer a distinção entre os peixes, ou seja, somente quando chegar à praia que se poderá fazer uma triagem apurada dos peixes, somente na areia o pescador distinguirá os peixes bons dos ruins. Sendo assim seguindo nessa mesma perspectiva a parábola do joio e do trigo se dará na mesma proporção somente quando o segador fizer a sega que se poderá fazer uma triagem apurada e concisa das duas sementeiras.


quarta-feira, 24 de junho de 2020

O Reino de Deus na Parábola do Trigo e do Joio

REINO DE DEUS NA PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO

 


A parábola do trigo e do joio. Mateus 13.24-46

24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino 

dos céus é semelhante ao homem que semeia

boa semente no seu campo; 25 mas, dormindo os

homens, veio o seu inimigo, e  semeou o joio no meio d

o trigo, e retirou-se. 26 E, quando a erva

cresceu e frutificou, apareceu também

 o joio. 27 E os servos do pai de família, indo ter

com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste

tu no teu campo boa semente? Por que 

tem, então, joio? 28 E ele lhes disse: Um inimigo é 

quem fez isso. E os servos lhe disseram:

Queres, pois, que vamos arrancá-lo? 29 

Porém ele lhes disse: Não; para que, ao 

colher o joio, não arranqueis também o 

trigo com ele. 30 Deixai crescer ambos juntos

até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi 

aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o

em molhos para o queimar; mas o trigo,

ajuntai-o no meu celeiro.

 

 Vou expor aqui a primeira parte da monografia quando fiz bacharelado na FAECAD. Fala a respeito de “Reino de Deus” na parábola do Trigo e do Joio. Aqui são estudos propedêuticos, logo existe uma infinitude de assuntos sobre esses temas, principalmente a respeito do Reino de Deus. O estudante que leva a sério sua leitura e estudos bíblicos não se deixa esgotar esses assuntos em apenas um artigo ou livro, mas procura com acuidade mais sobre. Por tanto se interessam a vós outros sobre o Reino de Deus procurem mais sobre esse tema, além de ser vasto o campo ainda não se chegou a um denominador comum sobre esse tema do que seria o Reino de Deus e Reino dos Céus.

 

R E S U M O

 

Qual o maior significado da mensagem de Jesus Cristo? Certamente muitos falarão que sua mensagem central é a cruz, sua morte, a ressurreição, a salvação, entre outros temas. De fato, são temas de grande relevância, porém o ponto fulcral da mensagem de Cristo não consiste nas supracitadas, mas sua mensagem constitui na locução Reino de Deus. Sobretudo, os ensinos de Jesus formam um aspecto didático para os ouvintes que o acompanhavam. Jesus tem toda uma preocupação didática para introduzir suas mensagens, das quais podemos citar uma: parábola em Mateus, capítulo 13. Essa parábola fala do "Joio e do Trigo", fazendo uma alusão ao Reino de Deus, como ele chegará a nós e sua importância para a salvação do homem.

Analisando com acuidade a parábola, podemos notar que no Reino de Deus há dois tipos de sementes: o joio que é normalmente interpretado como os infiéis ou os não cristãos, e o trigo que é comparado aos fiéis ou cristãos em modo geral. Mas essa diferença será notada somente no fim dos tempos, ou seja, somente quando o trigo estiver maduro e pronto para a ceifa é que poderá se fazer uma triagem apurada desses cereais tão parecidos.

No que tange ao reino de Deus em seu aspecto soteriológico podemos dizer que o reino nos deixa marcas e evidências que já está operando entre os homens. De fato, já está entre nós. Jesus mesmo deixa isso bem claro logo depois do seu diálogo com os discípulos de João Batista, aonde ele fora interrogado se era o Messias, em Mateus 11.12, Jesus disse: “Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele”. Podemos dizer então que o reino de Deus não é um conceito extático, mas sim um conceito dinâmico e que opera entre os homens trazendo a eles o ideal de justiça de Deus através de Cristo Jesus. Conclui-se que o reino de Deus se preocupa não somente com alma do indivíduo, mas com tudo aquilo que envolve o homem. O reino de Deus apenas exprime uma experiência histórica do povo escolhido: a ação divina como fonte de toda a criação e como salvadora da humanidade. Fica evidente que o Reino resulta da ação salvífica de Deus, e não do esforço humano ou de suas realizações históricas. Sendo assim os sinóticos consideram que o reino de Deus, seja uma realidade presente, ou seja, uma realidade futura, o presente inaugura a plenitude salvífica futura e o futuro penetra e esclarece o presente como tempo de decisão para alcançá-lo.

Palavras-chave: Reino de Deus. Salvação. Joio. Trigo.

 

A B S T R A C T


What is the core meaning of the message of Jesus Christ? Surely many will say that its central message is the cross, death, resurrection, salvation, among other topics. In fact these are very important issues, but the core of Christ's message does not consist in the above, but his message is the expression of the Kingdom of God. Especially the teachings of Jesus are a didactic aspect for listeners who accompanied him. Jesus has a whole didactic approach while delivering his messages, for instance: the parable in Matthew, chapter 13. This parable speaks of the "tares and wheat", an allusion to the Kingdom of God, how it will come to us and its importance for man's salvation.

Accurately analyzing the parable, we can see that in the kingdom of God there are two types of seeds: the weeds which is usually interpreted as infidels or non-Christians, and the wheat that is compared to the believers or Christians in general. But this difference will only be available in the revelation times, or only when the wheat is ripe and ready to harvest one will be able to make an accurate screening of these so like cereals.

Regarding the kingdom of God in his soteriological aspect we can say that the kingdom leaves in marks and evidence that it is already operating among men. In fact, it is already among us. Jesus himself makes this clear right after his dialogue with the disciples of John the Baptist, where he was asked if he was the Messiah, in Matthew 11:12, Jesus said: “From the days of John the Baptist until now, the kingdom of heaven has been subjected to violence and violent people have been raiding it.” We can say then that the kingdom of God is not an ecstatic concept, but rather a dynamic concept and works among men bringing them the perfect justice of God through Jesus Christ. It concludes that the kingdom of God is concerned not only with the individual soul, but with everything that involves the man. The kingdom of God simply expresses a historical experience of the chosen people: the divine action as the source of all creation and as the savior of mankind. It is evident that the Kingdom resulting from the saving work of God, not human effort or its historical achievements. Thus the synoptic consider that the kingdom of God is a present reality, that is, a future reality: the present opens the fullness of future salvation and future penetrates and clarifies the present as decision time to achieve it.

Keywords: KINGDOM OF GOG. SALVATION. CHAFF. WHEAT.

 

SUMÁRIO

 

1- INTRODUÇÃO

2- CAPÍTULO 1 – AS PARÁBOLAS NO EVANGELHO DE MATEUS

2.1- A questão Sinótica

2.2- Conteúdo, Natureza e Propósito

2.3- Autor

2.4- Local e Data

2.5- O Termo Parábola

 

3- CAPÍTULO 2 – A PARÁBOLA DO JOIO

3.1- A Parábola

3.2- Resposta a Certa Decepção

3.3- A Trama

3.4- Estrutura

3.5- Desenvolvimento

 

4- CAPÍTULO 3 - O REINO DE DEUS EM CONTINUIDADE COM A

SALVAÇÃO DO HOMEM NA PARÁBOLA DO JOIO E DO TRIGO

4.1- A Expressão Reino de Deus ou Reino dos Céus

4.2- A Práxis do Reino de Deus: A Salvação do Homem

 

5- CONCLUSÃO

 

6- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

1- I  N  T  R  O  D  U  Ç  Ã  O

 

O Reino de Deus exprime uma experiência histórica irrompida na humanidade, é a ação divina como fonte de toda a criação e como salvadora do homem. Falar do Reino é falar no fundo sobre Deus. De fato, o Reino vai acontecer, pois não consiste somente em meras palavras, mas em ação (1a Co. 4.20), assim compreendemos que para a Escritura a vinda do Reino significa simplesmente a manifestação de Deus ao seu povo. O Reino de Deus não é a igreja, não é o céu para onde irão os santos, nem tão pouco a comunidade eclesial na região onde vivemos. O Reino de Deus teve seu primeiro anúncio por João, o Batista e logo depois por Jesus Cristo. Onde o próprio Cristo ora pedindo "venha o teu reino", onde o próprio também faz uma relação proeminente sobre várias parábolas a respeito deste Reino.

Podemos entender também que o Reino é algo que já está entre os homens se manifestando e alguns já podem ver e sentir esse Reino, como o caso do "pobre de espírito", mas que sua completude se dará nos finais dos tempos. Vemos também que o Reino de Deus é oposto ao reino das trevas, e tudo aquilo que afeta a ordem natural das coisas criadas por Deus e do homem. Este Reino que já está presente, mas que um dia irá ter sua plena revelação em um tempo futuro, já entrou para a história dos homens na pessoa encarnada de Jesus com a finalidade de vencer esse mal, de libertar a humanidade do seu poder e de propiciar-lhes a participação das bençãos de Deus através do Reino dEle. Jesus dialogando com os discípulos de João Batista, onde estes foram perguntar ao próprio Cristo se Ele era o Messias esperado ou se haveria de vir outro Jesus os indaga falando em Mateus 11.1ss: "Ide contar a João as coisas que ouves e vedes: os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho". Dá-nos entender que o Reino de Deus está em oposição a estes elementos citados acima e uma das manifestações do Reino é exatamente isso, a preocupação e o bem estar ético, social e espiritual do homem. Este Reino está em conformidade com a esfera material do homem, ele se preocupa não somente com o espírito, mas também com o corpo. Também podemos dizer que o Reino de Deus envolve aspectos éticos da vida do ser humano. Vemos que Jesus sempre nos mostra caminhos que devemos seguir como o caso do Jovem rico (Mt. 19.16-30), onde ele pergunta a Jesus o que ele faria para entrar no Reino dos Céus e Jesus o responde que era somente ele cumprir a Lei, e ele responde que já cumpria e Jesus mandou vender todos os seus bens e repartir com os pobres. O jovem rico sai triste e Jesus faz a comparação que é mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. O caráter ético aqui se baseia das pessoas ajudarem umas às outras, de se preocuparem com o próximo em suas necessidades comum do dia-a-dia. Aqui cabe um elemento muito importante sobre o caráter ético do reino de Deus, que é a questão da justiça deste Reino. É uma justiça determinada pela obediência a mandamentos que Jesus, outrora, deu em seus ensinamentos, como por exemplo, as Parábolas do Reino.

Para ter acesso a este Reino, o indivíduo tem que se submeter a muitos critérios, um desses é o homem deixar seu próprio lar (Lc. 9.58), também rompendo seus laços familiares (Lc. 9.61), também há o aspecto que se o indivíduo amar mais seus pais ele não é digno deste Reino (Mt. 10.34-39), qualquer laço que impede o amor a Deus e ao seu Reino impede também o seu ingresso ao Reino de Deus. O Reino de Deus envolve também duas proposições muito interessantes e polêmica, ele se manifesta em dois éons presente e futuro. A basileia é sempre entendimento escatológico, designa então o tempo da salvação, a consumação deste mundo, a reconstituição da comunhão de vida entre Deus e os homens, afetado por causa do pecado. A gênese do Reino de Deus se encontra na experiência entre Jesus Cristo e Deus, essa relação foi íntima a ponto de ser irromper na história a salvação do mundo. E a missão de Cristo foi compartilhar não somente o Reino, mas essa salvação tão esperada.


2- C  A  P  Í  T  U  L  O  1

 

2- AS PARÁBOLAS NO EVANGELHO DE MATEUS

 

2.1- A QUESTÃO SINÓTICA

 

Evangelho vem do grego “euangélion” que significa “pagamento pela transmissão de uma boa notícia” ou “recompensa pela transmissão de boas novas”, mas também as próprias “boas novas”, com o passar do tempo a expressão o termo se desenvolveu e passou a se chamar “boa notícia” ou “notícia de vitória”. Este termo já tinha adquirido conotação religiosa principalmente no culto do imperador, César, no império romano, o imperador era venerado como salvador (sôter) e até como deus, o anúncio de seu nascimento e de sua subida ao trono era considerado “euangelion”.

Nos textos neotestamentários esse termo assume um significado de “boa-nova de salvação”. Na base deste termo está o verbo “euangelízesthai”, hebraico “bissar”, “proclamar boa-nova de salvação” (Is 40.9; 52.7; 61.1; Sl 96.2...). Esse ato de proclamar a boa-nova se encontra em Isaías, correlacionado com o mensageiro de Deus que a boa-nova escatológica da irrupção do reinado, soberania de Deus, ou seja, o Reino de Deus. Os três primeiro evangelhos são agrupados e recebe o nome “sinóticos”. Encontramo-nos diante de um gênero literário diferente. Os evangelhos como literatura não são biografias helenísticas, não estão interessados na ordem cronológica do texto ou até mesmo no fundo histórico de sua época, nem tampouco os autores estão preocupados em demonstrar à antiga literatura de memórias dando a ênfase em heróis.

Seu interesse é nada mais que suscitar a fé e fortalece-la, os ditos e ações de Cristo foram coletados na forma mais simples da narrativa, com a finalidade de mostrar aos cristãos da época o fundamento da fé e proporcionar os missionários um sólido documento para a pregação, ensinamento e também para argumentar falsas doutrinas que poderiam surgir no cenário. A teoria das duas fontes essa proposta se baseia em duas colunas, Marcos é a base para Mateus e Lucas, por ter sido o primeiro. Mateus e Lucas fizeram uso de Marcos e de Q.

 

2.2- CONTEÚDO, NATUREZA E PROPÓSITO

 

O Evangelho de Mateus é o primeiro livro do NT, entretanto, o primeiro evangelho a ser escrito foi o Evangelho Segundo escreveu Marcos. Mas, Mateus tem uma prerrogativa interessante que diferencia dos demais evangelhos. A natureza do Evangelho de Mateus possui um fio de tensão, fala sobre uma didática e uma apologética. Mateus faz um bom uso das palavras a ponto de ser reconhecido em público rapidamente, por causa de sua didática simples. Segundo Jerônimo (1972) e Bock (2006) os dois concordam que dos quatro Evangelhos, Mateus, é o mais judaico, sendo assim, ele provavelmente escreve aos judeus de fala grega com origem judaica. Mateus é um link entre veterotestamentários e neotestamentários. O Evangelho expressa uma expectativa judaica de um Messias politizado. Os judeus esperavam um Messias que fosse político e que tirasse seu povo do jugo e das mãos dos opressores e que restituísse o trono do Rei Davi. Hale (2001) e Bock (2006) o Evangelho de Mateus foi escrito em tempos obinubilados, aproximadamente perto da guerra Judaico-Romana, guerra está ocasionada pelo fanatismo nacionalistas, que tentaram introduzir à força o Reino Messiânico.

O objetivo do Evangelho de Mateus é mostrar uma continuidade do Rei tão esperado pelo povo de Israel com Jesus Cristo, o Messias, o Filho de Deus, o Rei prometido ao seu povo. Mateus abarca em seu conteúdo o tema singular e fulcral da mensagem de Jesus que é o "Reino do Céu", objetivando sistematizar e estruturar o conteúdo da mensagem de Jesus. Há outro aspecto para se observar nos temas deste Evangelho são o "evangelismo" e "missões". Mateus tem o cuidado de preservar o conteúdo kerigmático dos apóstolos. Outros temas que abarcam esse Evangelho a respeito de Jesus como a morte e a salvação dos homens estão intrinsecamente correlacionadas à profecia: descendência davídica, nascimento, vida, morte, ressurreição, ascensão e a promessa da volta de Jesus. A questão didático pedagógica segundo Horster (1996) e Hale (2001) que o evangelho apresenta, ele pelo que parece foi escrito para instrução. O ensino tem um enfoque muito forte na pregação de Jesus (como por exemplo as Parábolas e o Sermão do Monte) é um livro completo, Mateus se preocupa com a comunidade que irá ler seus escritos, por isso a acuidade deste autor.

Outro elemento muito importante que Mateus enfatiza em seu evangelho é a apologética. Havia grandes conflitos entre judaísmo e Cristianismo, um deles era que alguns diziam que a justiça, só poderia ser recebida como uma dádiva de Deus. Mateus mostra que o propósito de Deus em Jesus Cristo era salvar o mundo e inaugurar seu Reino. O Reino Messiânico não é um reino racial, nacional, político, onde os homens agem de maneira egoisticamente, mas o Reino de Deus inaugurado por Jesus e predito por João, o Batista, é ainda espiritual onde os pobres têm as mesmas características que o rico e são tratados de igual modo, se bem que, neste Reino, o pobre tem maior aceitação do que o rico. Vimos que qualquer um desses temas apresentados são sem dúvidas temas inerentes ao seu conteúdo programático, nota-se também que há uma continuidade entre os temas abordados e cada um deles são específicos e possuem caráter único. Mateus faz um destaque maior sobre o tema "Reino dos Céus", cada dito está intrinsicamente correlacionado à questão da realeza de Jesus, enfatizando para o seu público judaico-cristão o reino messiânico de Jesus como Rei deste Reino tão proeminente.

O "Reino do Céu" em Mateus refere-se à soberania de Deus sobre toda a ordem criada, a palavra "reino" segundo Hale (2001) com adjetivos qualificativos e pronomes, é usado cerca de 60 vezes os em Mateus, para intensificar o termo em seu evangelho. Tanto no AT como no NT a palavra "reino" tem a mesma significância o governo soberano de Deus. Quer que o homem reconheça ou não seu reinado, Deus é Rei e sua realeza está ativa entre os homens nesse mundo presente, pois Ele mesmo prometeu um reino sem fim a "Um homem como o Filho do Homem" (Dn 7.13,14).

 

2.3- AUTOR

 

A autoria deste evangelho é incerta, pois não há nenhuma menção do autor, ou seja, uma assinatura dizendo quem foi como no caso das epístolas do Apóstolo Paulo. Esse livro é anônimo, assim como os outros três evangelhos. Contudo, a tradição antiga, a igreja, atribui a este evangelho o nome de Mateus e que este provavelmente teria escrito em hebraico ou aramaico, mas provavelmente ele escreveu em grego segundo Bock (2006). A tradição é unânime em dizer sobre a autoria de Mateus, concordando com isso o Comentário San Jeronimo (1970), Schmid (1973), desde o século II como o caso de Papias, Irineu, repetida no século III por Orígenes e no século IV por Eusébio Kümmel (2004) e Schmid (1973). Uma pergunta surge: Por que Mateus? Essa é uma pergunta intrigante, pois não temos respostas, a não ser se observarmos a tradição cristã primitiva e buscarmos entendermos um pouco sobre quem é Mateus. Eusébio cita Clemente de Roma como dizendo que “o primeiro dos quatro Evangelhos, que são inquestionáveis, foi compilado por Mateus, que outrora fora um coletor de impostos, mas posteriormente um apóstolo, Horster (1996). Esta é a evidência mais antiga sobre o Evangelho de Mateus. Inácio de Antioquia nos dá entender também que está fazendo menção de Mateus em sua carta a Esmirna, ele se refere ao que é tido como um Mateus escrito, e o denomina o Evangelho, Hale (200)1. E assim segue-se uma lista da tradição primitiva a respeito da autoria de Mateus favorecendo a sua autenticidade.

O nome próprio de Mateus significa “dom de Deus”, aparece em todos os relatos das listagens dos doze apóstolos Mc 10.2-4; Mc 3.16-19; Lc 6.13-16; At 1.13. Somente em Mt 10 ele é chamado de publicano, cobrador de impostos; Marcos (2.14) o chama de “Levi, filho de Alfeu” e Lucas (5.27) o chama somente de “Levi”. Não há dúvida que os três citados são as mesmas pessoas, se a menção que Marcos faz em 2.14 for real a ele como publicano, então este é irmão de Tiago, o filho de Alfeu (Mt 10.4; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Há também outra questão e esta também é convincente no quesito a sua autoria e iria explicar detalhadamente algumas questões particulares do judaísmo. A questão está em seu nome de Levi, Leuín de Marcos 2.14 e Lucas 5.27 poderia ser traduzido por “levita”, e não necessariamente por “Levi”. Isto nos levaria entender que Mateus pertenceria à tribo de Levi.

Levando em consideração o termo levita poderemos explicar as peculiaridades deste evangelho. O conservacionismo, o interesse na lei oral e na tradição, nos fariseus e nos escribas, e a escatologia tradicional encaixam-se perfeitamente na formação prévia de um levita. Como havia muitos levitas e que muitos desses não poderiam ser absorvidos no ritual do templo (Lc 1.8,9), grandes partes deles tinham que ter outro meio de se sustentarem. Como o levita eram homens treinados pelo sacerdócio, sua posição para serem empregados pelos “principais publicanos”, que seriam da classe sacerdotal politicamente poderosa de Jerusalém. Esse treinamento é vantajoso, pois ele teria tal capacidade para escrever um evangelho tão notório quanto o é de Mateus, Hale (2001). Mateus pelo que parece evangelizou a Etiópia, Macedônia, Síria, Pérsia e Média. Há uma tradição que ele tenha morrido naturalmente na Etiópia ou na Macedônia. Por outro lado, as Igrejas Grega e Romana celebram o seu martírio. Depois de Atos 1.13 não ouvimos mais falar mais de Mateus ou Levi.

 

2.4- LOCAL E DATA

 

O Evangelho de Mateus só poderia ter sido escrito num lugar onde a língua grega era comum a todos, mas que esses falantes gregos eram de origem cristão-judaico. Há eruditos que pensam que foi na Antioquia da Síria? Sua data de composição é meio que incerta, tomando como base o evangelho de Marcos que provavelmente fora escrito no ano 60 ou 70 d.C. em diante menos impossível, segundo os autores Hale (2001); Carter (1999) e Kümmel (2004).

Provavelmente o Evangelho de Mateus teria sido escrito nos anos 100 d.C. Levando em consideração a declaração do Bispo de Antioquia, Inácio, quando se referiu ao evangelho em sua carta a Esmirna. Eusébio cita Clemente de Roma sobre Mateus e Clemente morreu por volta do ano 101 d.C. Para comprovação basta analisar os textos de Marcos sobre a perseguição neroniana e das mortes de Paulo e Pedro. Alguns eruditos chegam a afirmar que Marcos 13 e Mateus 22 e 24 pressupõem a destruição de Jerusalém. Há também a questão de que Mateus e Lucas parecem refletir fortemente a separação e crescente alienação entre judeus cristãos e judeus não-cristãos, entre o cristianismo e judaísmo. Naturalmente, esta atitude de alienação é observável no livro de Atos e poderia dar crédito a ideia de que eles poderiam ter surgido no cenário nos anos 60-70. Mais provavelmente, seria melhor dizer que Mateus foi escrito entre 65-75. A Data é incerta, mas temos que levar em considerações algumas afirmações dos próprios textos de Marcos e Mateus.

 

2.5- O TERMO PARÁBOLA

 

Parábola vem do grego (Coenen; Brown in: Chown, 2004) parabolē, tipo, figura, parábola; paraballō, jogar ao lado de, comparar. Segundo Dodd (2010) as parábolas são talvez o elemento mis característico da doutrina de Jesus Cristo registrado nos evangelhos. Em todos os conteúdos se apresenta uma marca bem definida de sua personalidade. O impacto que ele causou nas mentes das pessoas causando uma boa imaginação fazia com que fixasse na memória dos ouvintes, além disso esse tipo de explicação assegurou um lugar muito distinto na tradição.

Mas uma coisa é ter dito a parábola e outra é o modo de como entenderemos essa parábola e que neste ponto não existem unanimidades acerca do entendimento. Segundo Dodd (2010) durante muito tempo o ensinamento tradicional da igreja as tratou como alegorias nas quais cada termo era tido como um criptograma de uma ideia, de sorte que o conjunto devia ser codificado palavra por palavra. As parábolas ocupam um lugar proeminente nos evangelhos conclamados por Jesus, independentemente do cenário Jesus estava ensinando através das parábolas. Schnelle (2004) vai diz que dispensa a interpretação alegórica da parábola e esclarece de forma determinante as terminologias (comparação, parábola, narrativa paradigmática, lado figurado e lado objetivo).

Foi feito um levantamento que cerca de um terço dos ditos de Jesus são em parábolas. Só o capítulo 13 do evangelho de Mateus contém cerca de oito parábolas que são denominadas, em seu conteúdo, “os mistérios do Reino dos Céus.” A palavra “parábola” indica, literalmente, “comparação”, e é comumente usado para indicar uma história breve, um exemplo esclarecedor, que ilustra uma verdade qualquer. No seu sentido mais lato (Coenen; Brown in: Chown, 2004 p.1566), a parábola é uma forma de fala que se emprega para ilustrar e persuadir mediante uma figura. Na Bíblia Sagrada esse termo usa como o emprego de fala figurada que era muito usado, para dar expressões concreta, pitoresca e desafiadora a ideias religiosas para as quais não existiam conceitos abstratos de todos os dias. R. Bultmann (apud Schenelle, 2004) desenvolveu um enfoque que ele partiu do princípio de que a simples palavra figurada, na qual a figura e a coisa são colocadas lado a lado sem uma partícula de comparação (Mc 2.17,21;), e quando essas palavras figuradas são acentuadas elas se transformam em hipérboles (Mt. 5.29s; 6.3) e paradoxo (Mt 10.39; Mc 4.25). Perto da palavra figurada está também em enfoque a metáfora (Mt 5.13; Lc 9.62), ela é uma comparação abreviada, na qual faltam as partículas de comparação e a figura substitui a coisa, sendo assim a metáfora deve ser entendida como uma forma de discurso não literal.

A parábola nos traz a memória uma realidade presente sobre a nossa vida e convida o ouvinte a uma análise de si com base em suas experiências (Mc 4.26-29; Lc 15.4-7). A parábola em si nos descreve algo do nosso cotidiano, porém a narrativa parabólica muda de perspectiva e relata casos isolados (Lc 15.11-32) e sua grande maioria se encontra no passado. Desde Julicher (apud Schenelle, 2004), é determinante a suposição de que o lado figurado e o lado objetivo de uma parábola ou narrativa parabólica convergem num só ponto, que precisa ser definido com a exegese. A narrativa paradigmática está em paralelo à parábola (Lc 10.30-37) esta por sua vez está ausente qualquer tipo de elemento figurado. A parábola também não é a mesma coisa que alegoria é uma metamorfose da metáfora. Nela existem vários pontos de comparação entre a figura e o objeto. A alegoria interpreta a si mesma, tão somente substituindo os personagens reais por outros. Na alegoria, os personagens fictícios são dotados das mesmas características das pessoas reais, sem qualquer tentativa de para ocultar ou ilustrar por meio de símbolos. A parábola ilustra por meio de símbolos, como por exemplo, “o campo é o mundo”, “o inimigo é o diabo”, “a boa semente são os filhos do reino”. A parábola é uma narrativa séria, colocada na esfera das probabilidades, isto é, a história narrada na parábola pode ter acontecido realmente, sendo ilustração das experiências comuns aos homens, e o conteúdo desta história tem por fito ilustrar, ensinar ou enfatizar um ou mais princípios éticos, morais, doutrinários ou religiosos.

Talvez a alegoria não seja muito diferente disso, excetuando o fato que pode indicar uma história criada, dotada de mais símbolos comparativos. Fazendo uma análise hoje em geral se distingue três etapas da parábola: alegoria, alegorese e alegorização. Segundo Schnelle (2004) a alegoria é uma forma literária, a alegorese, um processo de interpretação e a alegorização, a explicação secundária de um texto figurado. A probabilidade é que as parábolas foram consideradas peças em um meio judaico, segundo Dodd (2010) entre os mestres judeus as parábolas eram procedimento corrente e perfeitamente utilizado para ilustrar uma ideia e as parábolas de Jesus tinham uma forma semelhante às rabínicas. Por um outro lado, no mundo helenístico estava sendo muito difundido o uso de mitos, interpretados alegoricamente como veículos de uma doutrina esotérica e não é estranho que se esperasse dos mestres cristãos algo semelhante, foi isto sem dúvida que deu a interpretações equivocadas um espaço grande nas comunidades cristãs.

O que são então as parábolas se não são alegorias? Dodd (2010) diz que são expressão natural de uma mentalidade que vê a verdade em imagens concretas em vez de concebê-las por meio de abstrações. O contraste pode ser facilmente identificado por duas formas de pensamentos com duas passagens dos evangelhos. Em Mc 12.33, um escriba expressa esse juízo: “Amar ao próximo como a si mesmo vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios”; em Mt 5. 23,24, se expressa a mesma ideia: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”. Esta forma de expressão concreta e descritiva é plenamente característica das sentenças de Jesus.

De uma forma mais simplista a parábola é uma metáfora ou comparação tirada da natureza ou da vida diária, que atrai o ouvinte por sua vivacidade ou singularidade e deixa na mente certa dúvida sobre sua aplicação exata, de modo que estimula a mente uma reflexão ativa e introspectiva gerando uma expectativa no ouvinte. Isso pode nos ocasionar um importante princípio de interpretação; a parábola típica apresenta, seja uma simples metáfora, uma símile mais elaborada ou um relato extenso, somente um ponto de comparação. Os detalhes não têm um significado independente. Por outro lado, em toda a alegoria cada detalhe é uma nova metáfora com um significado próprio. O que se propõe ao autor de uma alegoria é compor seu relato de maneira que se lê de forma natural, sem a necessidade de captar a interpretação. Nas parábolas dos evangelhos tudo está de acordo com a natureza e a vida, cada símile ou relato é um quadro perfeito de algo que pode ser observado no contexto da nossa experiência.


terça-feira, 23 de junho de 2020

IMAGEM E SEMELHANÇA


I M A G E M  &  S E M E L H A N Ç A

 

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa

imagem, conforma a nossa 

semelhança; (...) Criou, pois, Deus o 

homem à sua imagem;

à imagem dDeus o Criou;

homem e mulher os criou” 

Gn 1.26,27.


“Este é o livro das gerações de Adão.

No dia em que Deus criou o homem, 

à semelhança de Deus o fez” 

Gn 5.1

 

INTRODUÇÃO


IMAGO DEI – Expressão que vem do latim e significa “Imagem de Deus,” faz parte da doutrina sobre a criação do homem. Esse conceito nos ensina que o homem fora criado à imagem e semelhança de Deus. É claro que o pecado manchou a Imago Dei original, mas não o destruiu totalmente.


ANÁLISE DOS VOCÁBULOS


IMAGEM – do hebraico Tselem, significa representação, uma semelhança. Na maioria das vezes refere-se a um ídolo. Mas em cinco vezes diz respeito ao homem ao ser criado à imagem de Deus. Tselem refere-se à imagem como representação da Divindade. Nesse sentido, as imagens eram terminantemente proibidas.


IMAGEM – do grego eikõn. A palavra envolve as duas ideias de representação e manifestação.


SEMELHANÇA – do hebraico dãmãh, ser como, assemelhar-se, ser ou agir como, comparar. Esse verbo aparece no hebraico por volta de 28x. O substantivo demut = feitio, figura, forma, padrão. Expressa a ideia do original segundo o qual uma coisa é moldada.


SEMELHANÇA – do grego homoíoma. Denota aquilo que é feito como algo, feitura como. Tiago 3.9 nos diz: “os homens feitos à semelhança de Deus,” traduzindo o trecho bíblico citado na forma literal temos: “toús anthrópous toús kath homoíosin Theou gegonótas,” isto é, “as pessoas a (que) segundo feitura como de Deus foram feitas."


Conceito de imagem segundo o dicionário VINI: Imagem: eikõn denota imagem, a palavra envolve duas ideias de manifestação e representação. Aos que são descendentes de Adão que trazem sua imagem (I Co 15.49); relações entre Deus Pai, Jesus e os homens, acerca de: o homem na medida que foi criado como representação visível de Deus (I Co 11.7), um ser correspondente ao original; a condição do homem como criatura caída não apagou a “imagem” completamente, ele ainda é adequado para assumir responsabilidades, ainda tem as qualidades semelhantes a Deus, como o amor a bondade e a beleza, nenhum dos quais são encontrados nos animais, na Queda, o homem deixou de ser veículo perfeito para a representação de Deus; a graça de Deus em Cristo ainda realizará mais do que Adão perdeu; os regenerados sendo representações morais do que Deus é (Cl 3.10; Ef 4.24); os crentes em seu estado glorificado, não somente como semelhantes a Jesus, mas representando-o (Rm 8.29; 1 Co 15.49); aqui a perfeição é a obra da graça divina; os crentes ainda representarão, não alguma coisa como Ele é, mas o que verdadeiramente Ele é em Si mesmo, tanto no Seu corpo espiritual quanto no Seu caráter moral.


No dicionário Ítalo Fernando Brevi: O cristão é imagem de Deus (2 Co 3,18; Cl 3,1-11; Rm 8,29; 1Cor 15,49). O homem e a mulher são imagem de Deus (Gn 1,26s; 9,6; 5,1; 1 Cor 11,7; Tg 3,9).


Na ideia fundamentada de semelhança é a representação. No antigo Egito, o faraó já é descrito efigie de o Deus solar . A indicação da imagem/efigie de encontra-se frequentemente ao lado ou no lugar de “filho de Rê.” Refere-se as proezas de faraó ou a sua aparência majestosa. Quanto a Mesopotâmia a designação do rei como imagem de um deus encontra-se em textos de templos neo-assirio e neobabilônico (VI, VII a.C), as vezes junto com a palavra salmu – estátua, imagem que corresponde a um dos dois conceitos usados no AT. Recentemente achou um par de conceitos selem e demut, imagem e semelhança, na inscrição aramaica de um rei arameu vassalo da assíria no sec. IX. No AT essas antigas noções orientais foram transpostas para uma teologia da criação, pondo-se no lugar do rei a humanidade inteira. Deus planejou e quis essa posição tão valorizada: “Façamos o homem...”. Semelhante a Deus, o homem o representa como senhor, Gn 1.26. juntamente com a promessa de benção, o homem recebe explicitamente a incumbência de reinar (v. 28). A semelhança divina no homem não é, pois, determinada propriedade do homem (como inteligência e linguagem), mas significa sua proximidade a Deus e a incumbência particular em relação a criação e dentro dela. Mas seu reinar não é autônomo; Deus entrega ao homem sua tarefa e lhe determina os limites (Gn 21.29; 9.2). Elevado acima da criação, o homem está orientado para Deus. Essa intimidade e representação valem para o homem e a mulher (Criou Deus homem e mulher 1.27), mas isso não permite concluir que Deus é semelhante ao ser humano. Pois é usado o plural (Ele os criou... v. 27) aliás na época da redação de Gn 1, a proibição das imagens já estava em pleno rigor.


Valor e proteção da vida humana: segundo Gn 5.1-3 a relação entre Adão e seu filho Set corresponde a que existe entre Deus e Adão (segundo sua imagem e semelhança...). A relação assim especificada mostra que a semelhança entre Deus e o homem não esgota com a tarefa de dominar. Gn 9.1-6 fundamenta a proteção da vida de cada ser humano e a primazia da vida humana, na sua dignidade como imagem de Deus.


ASPECTOS DA IMAGO DEI


O fato do homem ter sido criado à imagem e à semelhança de Deus é explicado como o ter o domínio sobre a criação divina na qualidade de vice-regente de Deus (Sl 8.5-8).

A imagem divina não se encontra no corpo do homem, que foi feito a partir de matéria terrena, mas em sua semelhança espiritual intelectual, moral, com Deus, de quem veio o sopro que lhe deu a vida. A imagem consiste nas aptidões da personalidade que fazem com que cada ser humano seja, como Deus, capaz de interagir com outras pessoas, pensar e refletir e possuir livre arbítrio.

O aspecto espiritual foi prejudicado pela queda e é diariamente manchada pelo pecado. Mas a imagem foi vista de forma perfeita em Cristo e se tornará perfeita em nós quando a salvação estiver completa (Hb 2.6-15).

O homem não é apenas uma imagem, mas é uma imagem de semelhança. Ele não é apenas representativo, mas representação. O homem é o representante visível, corpóreo, do Deus invisível, incorpóreo. A Imago Dei distingue o homem de todas as outras criaturas; é o que nos faz humanos. A imagem de Deus não se perdeu em consequência do pecado ou, especificamente, da queda. É algo inseparavelmente ligado a humanidade. Ela diz respeito ao que somos, não ao que temos ou fazemos. O homem, mesmo pecador, continua carregando a imagem de Deus (Gn 9.6).


A IMAGEM DE DEUS


Segundo todas as afirmações do AT sobre o homem se destaca a de Gn 1.26ss que dá o homem e só a ele, o título de imagem, retrato de Deus. Além desta declaração não se conhece outras no AT que definam o homem com tanta concisão e com tanta plenitude interior.

TOME NOTA!

Gn 1.26 pertence ao escrito sacerdotal. É bem claro nesta passagem que ideias e representações dos mitos pagãos e da literatura sapiencial (literatura dos sábios), relativas a criação do homem, foram aceitas e adaptadas à mentalidade israelítica. O mito transparece de um modo plenamente reconhecível, mas os deuses cederam o lugar ao Deus único, Yahweh. Pelo aproveitamento de ideias então correntes sobre a criação do homem e pela interpretação que lhes dá, a Bíblia faz ver em Gn 1.26ss a definição de homem.

Estrutura alma-corpo: Se pergunta ao AT se ocupa se é pertinente a questão da dicotomia, “alma, como princípio vital e carne”, ou com a tricotomia “alma, espírito e carne.” Isso porque ele não se distingue claramente entre o órgão (p. ex., alma=nefes – garganta, pescoço, respiração, vida; corpo=basar – carne; espírito=ruah – hálito; leb – coração) e a sua função ou entre a parte do corpo e o modo segundo o qual o homem vive. Nefes define o homem enquanto ele procede de alguma coisa; ruah o caracteriza enquanto está sujeito a sentimentos e possui aptidões; leb o mostra como ser capaz de pensar e de decidir; basar indica a sua impotência e fragilidade.

Afinidade com Deus: não se pode responder nenhuma questão antropológica se baseando em termos hebraicos que correspondem ao corpo e força vital, alma. Se quisermos compreender como o AT funciona a respeito do homem devemos voltar para outras afirmações como para a passagem que diz que o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, Gn 1.26.

Colocando o homem no âmbito da criação e no fim do sexto dia do esquema hebdomadário (Gn 1.1-2.4a), o autor destaca o homem como a obra mais importante. Quanto a sua posição diante de Deus Gn 1.27s a vê especificado no fato de o homem ter “semelhança” com Deus e de ser até sua “imagem.”

Procuremos interpretar detalhadamente essa afirmação. Que significam “imagem retrato?” Pelo que podemos deduzir das fontes antico-orientais e dos textos bíblicos (Gn 5.3), o que se descreve deste modo é a estreita afinidade existente entre o homem e Deus: entre eles existem a mesma relação que entre pai e filho. Assim o homem é semelhante a Deus corresponde à sua figura ou imagem: ele anda ereto, é dotado de espírito e chamado a dominar sobre o mundo e os animais. Colando a ideia da semelhança com Deus na obra da criação, a narrativa bíblica põe as bases para toda história seguinte da humanidade e do povo e Israel: todos os homens, inclusive Israel, vivem em um mundo que é a criação de Deus, no fim, formou o homem.

Segundo a concepção bíblica o fato de o homem ser “à imagem” de Deus significa, de um lado, que a vida e a felicidade do homem estão ligadas à sua proximidade com Deus, concretamente, à sua obediência ao seu criador e Senhor da vida. Por outro lado, esse fato faz refletir que seria uma ilusão fatal se dessa proximidade se quisesse deduzir a possibilidade de ser “Como Deus” e de viver sem se preocupar com ele e sua lei.

Segundo o AT o homem é uma imagem de Deus que tem por obrigação de viver esta sua dignidade pelo cumprimento da Lei. Uma resposta definitiva a todas estas questões será dada, porém, só quando Cristo, cumprimento da Lei, aparecer no fim dos dias e, como verdadeira imagem do Pai, assimilar os seus a si mesmo.


ANTROPOLOGIA; ESTUDO E 

IMAGEM DE DEUS


Parte do cosmos, mas a imagem e Deus, é o homem. O homem só se conhece como homem em Jesus Cristo. Fora da experiência da redenção em Cristo, o homem se julga homem perfeito. Embora o homem natural não o saiba, sua natureza apresenta três aspectos sociais: a) Homem religioso; b) Homem pecador e c) Homem imagem de Deus.

a)   O homem percebe a sua natureza religiosa quando se conhece verdadeiramente em Cristo. A experiência soteriológica é a chave para a compreensão desse aspecto do homem. Calvino estudou o verdadeiro conhecimento de Deus, como acomodado, correlativo, experimental, compreensivo – expressões essas que mostram vários aspectos da mesma verdade: que só em Cristo se conhece verdadeiramente a Deus e que só o homem que conhece a Deus em Cristo, é que se conhece como homem em toda a sua extensão.

b)  Mas conhecer-se como regenerado, é conhecer-se pecador. “o pecado é a grandeza e a miséria do homem.” Redenção é uma das ideias que nos leva necessariamente a outra: pecado, rebeldia. Somos salvos do pecado. Que é isso? Pecado é o absurdo na criação de Deus. É a emergência na vontade da criatura contra a vontade do Criador. É desarmonia, isto é, desvio do homem, criado por Deus para ser seu interlocutor. O pecado é conhecido somente pelo salvo, o não regenerado não só se justifica do pecado, mas tenta explicá-lo.

c)      O homem que peca e é regenerado é uma criatura especial de Deus. Exatamente esses dados espirituais é o que se distingue dos animais. Daí a expressão “imagem e semelhança de Deus.” Não designa ela algo diferente do ser humano, mas o ser humano no duplo aspecto de suas possibilidades e de sua realidade. Há uma imagem natural (formal) e uma imagem espiritual (material). No primeiro sentido é personalidade; no segundo, santidade. A realidade do ser humano, por Deus criada, à Sua imagem, apresenta dentro de certas polaridades: corpo x alma; homem x mulher; etc. Tais polaridades não devem ser objetos de especulações, há, contudo, lições dentro dessas mesmas. Textos: Rm 8.29; I Co 11.17; II Co 3.18; Cl 3.10; Gn 1.27; 5.1;9.6.

Estudo do homem em sua dimensão teológica levou-nos ao conceito de imagem de Deus, que é um tema bíblico, do princípio ao fim. Os textos que devem ser analisados com acuidade são: Gn 1.26,27;5.3; Rm 8.29; I Co 11.7; 15.45-49; II Co 3.18; 4.4; Cl 1.15; 3.10; Ef 4.24; Hb 1.3; Tg3.9 cada texto com seus contextos, se deve fazer uma exegese, não é o nosso caso aqui, quem sabe futuramente.

Desse recenseamento de textos, vê-se que o assunto se desdobra ao menos em 3 aspectos:

1-      Imago Dei expressa: Cristo – II Co 4.4; Cl 1.15; Hb 1.3

2-      Imago Dei renovada: Regenerado – Rm 8.29; II Co 3.18; Cl 3.10; Ef 4.24

3-      Imago Dei simples: o homem visto em seu aspecto natural – Gn 1.26,17; 5.3; Tg 3.9

Cristo, o homem ideal, é imago Dei expressa. Que é imago Dei em Jesus Cristo, a distinção trinitária (o Filho) ou o ser humano perfeito? Acho que não se trata de Imago Dei, no sentido comum do ser humano. Foi, pois, a perfeita imagem de Deus mesmo no sentido humano.

Assim, reduzimos em duas classes os textos serem estudados, que correspondem à dupla terminologia que surge nos autores:


CALVINO

Imagem no sentido geral: refere-se à “feitura” de Deus no universo, isso inclui o homem como espécime preeminente da operação de Deus.

Imagem no sentido especial: refere-se à resposta do homem à palavra de Deus. A revelação com Deus tem analogia na própria relação entre Adão e Eva. Ora, o conhecimento mais preciso dessa relação pode ser ganho na reparação da natureza corrupta, em Cristo, a através da regeneração do Espírito.


BRUNNER

Aspecto formal na natureza humana: no pensamento dos textos veterotestamentários, o fato do homem ter sido feito imagem de Deus significa algo que o homem não pode perder; mesmo quando ele peca, não pode perdê-lo. Essa concepção não é, pois, afetada pelo contraste entre pecado e graça, ou pecado e obediência, precisamente porque ele descreve o aspecto da natureza humana que poder-se-ia chamar de “formal” ou “estrutural” e não “material”.

Aspecto material da natureza humana: o Novo Testamento simplesmente pressupõe esse fato que o homem, na sua real natureza, tem sido feito à imagem de Deus. Aos apóstolos o que interessa é a realização “material” desta qualidade dada por Deus, isto é, o homem deveria realmente dar a resposta que o criador deseja, a resposta em que Deus é honrado e em que Ele se comunica, resposta do amor grato e reverente, dada não só em palavras, mas em toda a sua vida.


STRONG

Imagem natural: personalidade. Essa semelhança natural a Deus é inalienável, e, como constituindo capacidade para redenção, dá valor à vida mesmo aos não-regenerados.

Imagem moral: santidade. O homem foi criado como uma direção de afeto e vontade, constituindo o fim supremo do ser humano. Mudou de direção: pecou. Retorna à direção: a regeneração.


IMAGEM DE DEUS NO 

PRIMEIRO SENTIDO


Refere-se aos textos de Gn 1.26,27; 5.3; Tg 3.9. É o pensamento mais presente no Antigo Testamento. Temos aí a imagem “formal” (Brunner), “natural” (Strong), “geral” (Calvino). Nesse sentido consideraremos os “Elementos Humanos.” O homem, pelo desenvolvimento de suas capacidades bio-psíquico-sociais, é a criatura que reflete Deus no cosmos, no sentido de dominar. Nesse sentido, o homem sempre foi e continua a ser imagem de Deus. É o rei da criação, é o vice-rei de Deus na terra. Todas as suas capacidades entram em jogo: inteligência, vontade. A personalidade distingue-se no cosmos como realidade excepcional. Irineu disse com muita propriedade: “É o homem e não uma parte dele, que é a imagem de Deus.” Personalidade é uma noção complexa, cujos elementos essenciais reduzem-se a quatro: consciência, própria, aliada à, determinação; própria.


IMAGEM DE DEUS NO 

SEGUNDO SENTIDO


Refere-se aos textos de Rm 8.29; Cl 3.10; II Co 3.18. É a imagem “especial” (Calvino); “moral” (Strong) e “material” (Brunner). É a imagem renovada. Nesse sentido, referimo-nos ao homem real, à direção teológica desse ser. O homem criado à imagem de Deus, feito para relacionar-se com Deus, mudou de direção, pecou. Ele – que devia ser vice-rei – pensou ser o próprio rei. Se, no primeiro sentido, o homem nunca deixou de ser imagem de Deus, no segundo sentido, o homem caiu, e como decaído, pode ser regenerado. Deus restaura a imagem, cria a “nova criatura”, dando direção certa à personalidade. O homem novo renova-se para o conhecimento segundo a imagem daquele que o criou. A vida cristã é uma restauração da imagem, é a reorientação do homem rumo ao seu destino.


ANALOGIA RELATIONIS


Analogia relationis” é um conceito atual, que diz respeito à natureza do ser humano e que, portanto, fala da próprio Imago Dei, mas que está relacionado e, derivou-se mesmo de um outro conceito mais geral – analogia entis – que é um conceito católico, medieval. Com ela, quer-se expressar a semelhança da natureza do cosmos com Deus, de tal modo que se pode conhecer Deus através do cosmos, uma teologia natural. Barth em sua Dogmatik, III. 1. p 206ss. ele discursa o conceito de Imago Dei. Como é o homem imagem de Deus? Um dos aspectos indiscutíveis dessa semelhança é o fato do ser humano não ser isolado. A personalidade só o é, em seu estado normal de vida social. Deus já o fez macho e fêmea (Gn 1.26,27). Não seria por acaso que o mesmo texto que nos diz ser o homem feito à imagem e semelhança de Deus, também diz que Deus o fez macho e fêmea. O ser pessoal é ser social e vice e versa.

Ora, o conceito de Deus que o mesmo texto apresenta é o de Deus trinitário: “Façamos.” Não está explicita aqui a fórmula trinitária, mas, o plural está presente como que expressado o conceito existente no ser divino: façamos... também o plural está em relação ao homem: “e dominem...”. O conceito de Eu e Tu caracteriza o ser humano como o ser divino. Mas ninguém pensará que o homem é personalidade exatamente como o Deus o é.

Que dizer, porém, do conceito aqui apresentado? Analogia relationis é aceitável? Sem dúvida, ele expressa um aspecto real do assunto. Não nos parece, porém, que a imagem de Deus no homem, mesmo do ponto de vista natural seja esgotado nesse conceito.

Brunner diz que a ideia de Karl Barth, que Imago Dei significa a polaridade dos sexos – que o homem tenha sido criado como “homem e mulher” – dificilmente ganhará o favor dos exegetas, a despeito do modo brilhante em que esta ideia é trabalhada.


SENTIDO CRISTOLÓGICO DE 

IMAGEM E SEMELHANÇA


Em Israel o distanciamento da imagem material criou espaço para um uso metafórico da noção de imagem, do grego eikõn. No início da era cristã, Gn 1.26, não se referia à humanidade atual. O texto permite pensar num homem “celestial,” anterior ao homem que segundo Gn 2.7, foi formado do pó da terra. O homem semelhante a Deus seria, pois, anterior ao mundo material; seria um ser incorpóreo, assexual e incorruptível (Filon, Op. Mund. 134). Filon relaciona-o com o Logos, a palavra de Deus como pensamento progressivo. Em outra linha de pensamento israelita, a Sabedoria, pela qual Deus formou o mundo, e na qual ele deixou o seu povo participar, tornou uma entidade “preexistente” (que existia antes do mundo concreto: Pr 8.22ss; Jó28.21ss). Deus, o absolutamente inigualável, outorga, na Sabedoria, uma “igualdade”, à qual o conhecimento humano tem acesso. Sb 7.26 define essa sabedoria como “reflexo da luz eterna e imagem da bondade divina.” Filon descreve a sabedoria, coincidindo com o Logos, como Princípio, Semelhança e visão de Deus (All. I,43). A ideia de semelhança também fora absorvida pela gnose.

O homem como a imagem de Deus: a evolução da cristologia acima descrita propedeuticamente deu uma nova ideia do homem como imagem de Deus. Pois o homem pode trocar o esplendor de Deus por uma imagem insatisfatória, e é isso que ele faz (Rm 1.23 visto por grande parte dos pesquisadores um esvaziamento de Gn 1.26). Mas a eleição divina os orienta para que se tornem à imagem e ao esplendor do Filho (Rm 8.29; II Co 3.18; Gl 4.19). Essa transformação, pela qual o homem, se torna celestial, tornou-se objeto de esperança nas comunidades paulinas (I Co 15.47ss; Fl 3.20). A carta aos Colossenses a vê operando na existência cristã, desde já, e faz dela um critério de conhecimento e de ética cristã. Ao lado dessa linha principal de reflexão temos I Co 11.2-11 onde Paulo se orienta por uma exegese de Gn 1 que hoje nos parece duvidosa. Entende “Adam” em Gn 1.26, não como a humanidade em geral, e sim como determinado indivíduo do sexo masculino. Desse homem, Adão, teria sido formada a mulher, segundo Gn 2.21. Ser imagem de Deus, Gn 1.27, teria sido privilégio do homem; da mulher, apenas por intermédio do homem. Paulo percebe que seu argumento é discutível, como mostram os vv 11ss, mesmo assim, segue-o, no v. 7. Também na sequência Cristo-Homem-Mulher (v.3) inspira-se nele. Uma exegese feminista vê nisso a base de uma depreciação da mulher no cristianismo; tal depreciação deveria ser combatida na base da intenção original de Gn 1.26 e pela elaboração Cristológica, prescindindo de sexo, da ideia do ser humano como imagem de Deus.


CONFUSÕES


Este é um assunto que tem gerado confusões na história do dogma, onde várias causas contribuíram para isso:

a)      A existência do paralelismo hebraico em Gn 1.27, que pode perder o sentido for dessa língua. Que fique claro que no original, o que há é a mesma realidade expressa de duas maneiras, segundo Calvino, 136.

 

HEBRAICO

GREGO

LATIM

PORTUGUÊS

INGLÊS

ALEMÃO

TSELEM

EIKON

IMAGO

IMAGEM

IMAGE

BILD

DEMUTH

OMOIOSIS

SIMILITUDO

SEMELHANÇA

LIKENESS

GLEICH, GLEICHHEIT AHNLICHKEIT

 

b)    O fato de haver duas concepções da imagem de Deus na própria Escritura. A pergunta “perdeu o homem a imagem de Deus na queda?” podem ter duas respostas: sim e não. Perdeu a imagem material, não a formal (Brunner). Para resolver essa questão temos que estudar sobre a Queda, que não é o caso aqui.

 

c)      A tradução da LXX kat eikona deu “segundo sua imagem.” O texto original be, mais salmo (be Tselem) pode ser traduzido: “em imagem sua.” A LXX deixa entender a imagem como uma qualidade do homem que produziria os traços do modelo (Deus), tão semelhante quanto uma cópia pode ser.


CONCLUSÃO


Que é no homem que é a imagem de Deus? É o homem mesmo ele todo, que os dois aspectos do assunto se encontram. Qual o fim do ser humano? Não é, acaso, a glorificação do Criador? Certamente. Deus fez toda a terra em função do homem, e, o homem para a sua glória. Não se poderia, antes da queda, falar em “restauração” de imagem. A imagem natural coincidia com a imagem moral. A perspectiva posterior à queda é que leva ao uso da mesma expressão, sugerida por Gênesis, em acepção diferente se bem que não contraditória.

Concluindo o ser humano, tal como foi criado, reflete Deus; o ser humano tal como alvo para que se volta o regenerado, reflete Deus; o homem tal como é atualmente, não é o que foi antes da queda, nem é ainda, o que será na consumação dos séculos.

Não se esgota aqui esses estudos acerca da imagem de Deus. Um estudo muito propedeutico acerca deste tema tão extenso. Cabe o leitor pegar essa base e continuar com os estudos desde os tempos mais antigos até remotamente. 






  * Imagens retiradas do Google Imagens



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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